A Ordem dos Farmacêuticos (OF) defendeu hoje o reforço dos registos clínicos e da avaliação dos medicamentos hospitalares, depois de uma análise concluir que três em cada quatro hospitais públicos não monitorizam regularmente os resultados dos novos fármacos usados.
Segundo a OF, é necessário "adotar uma abordagem mais consistente e proativa na avaliação do impacto clínico de novas terapêuticas, de forma a garantir-se um financiamento adequado".
Por outro lado, de acordo com o bastonário, Helder Mota Filipe, citado em comunicado da OF, "é fundamental reforçar a capacidade dos hospitais para gerar registos robustos e de qualidade, que permitam medir consumos e resultados com fiabilidade".
"Só assim será possível melhorar os processos de negociação com a indústria farmacêutica e avançar para modelos de contratualização baseados em resultados ou em partilha de risco, contribuindo para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde", sustentou Helder Mota Filipe.
De acordo com o Índex Nacional do Acesso ao Medicamento Hospitalar 2025, a que a Lusa teve acesso, três em cada quatro hospitais públicos não monitorizam de forma sistemática os resultados das novas terapêuticas que usam, uma situação que poderia gerar poupança na despesa destas instituições com medicamentos, que subiu 15% até setembro.
Os dados indicam, ainda, que a maioria dos hospitais também não reavalia uma nova terapêutica depois de a utilizar - um mecanismo que poderia também ser vantajoso para a renegociação de preços com a indústria - e que 80% não fazem a gestão de dados (efetividade e segurança) relativos à utilização dos medicamentos em contexto de vida real.
Segundo o índex, promovido pela Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares, 84% das instituições não têm qualquer sistema integrado de gestão de dados clínicos/financeiros/administrativos, que poderia permitir uma análise de custo e efetividade das intervenções em saúde.
O Índex, que avalia o nível de acesso aos medicamentos nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, recolheu também informação relativa à dispensa de fármacos em regime de proximidade, que abrange apenas 40% dos doentes que habitualmente levantam medicamentos no hospital, um resultado que os especialistas consideram "aquém do expectável".
O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos pede que todos os hospitais "implementem este regime", defendendo ser fundamental "uma melhor articulação entre as entidades intervenientes no processo, bem como a simplificação de procedimentos burocráticos e logísticos".
O regime de dispensa de medicamentos em proximidade pretende facilitar o acesso dos doentes a determinados fármacos em locais da sua preferência e mais próximos da sua residência habitual, como farmácias comunitárias, em alternativa à dispensa presencial na farmácia hospitalar.