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Médio Oriente: Organizações humanitárias querem retomar atividades em Gaza e Cisjordânia

LUSA
06-08-2025 16:58h

Várias agências da ONU e organizações não-governamentais (ONG) pediram hoje às autoridades israelitas que revoguem uma regulamentação que ameaça, segundo argumentam as entidades, todas as atividades humanitárias na Faixa de Gaza e na Cisjordânia ocupada.

Segundo a Humanitarian Country Team (HCT), órgão de coordenação entre a ONU e mais de 200 ONG, estas instituições apelaram às autoridades israelitas para que revoguem sobretudo a exigência introduzida a 09 de março, que obriga as organizações humanitárias a partilhar informações pessoais sensíveis sobre os seus funcionários palestinianos, sob pena de terem de cessar as operações humanitárias na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental.

“A menos que sejam tomadas medidas urgentes, as organizações humanitárias alertam que a maioria dos parceiros das ONG internacionais poderá ser excluída até 09 de setembro, obrigando-as a retirar todo o seu pessoal internacional, impedindo-as de prestar assistência humanitária essencial e vital aos palestinianos”, advertiu.

“Esta exigência faz parte de um conjunto de novas condições restritivas” impostas às ONG internacionais, lembrou o HCT.

“As organizações não-governamentais que não estão registadas no novo sistema estão proibidas de enviar qualquer tipo de ajuda para Gaza”, acrescentou.

Em julho, prosseguiu o HCT, Israel “rejeitou repetidamente os pedidos de 29 ONG para enviar ajuda humanitária a Gaza”, alegando que essas organizações não estavam autorizadas a efetuar tais procedimentos.

“Infelizmente, muitas organizações de ajuda humanitária servem de cobertura para atividades hostis e, por vezes, violentas, incluindo violações de fronteiras, assédio e intimidação de residentes, assédio de soldados e o seu envolvimento no movimento (...) para promover boicotes” contra Israel, reagiu, em declarações à agência noticiosa francesa AFP, o ministro dos Assuntos da Diáspora e da Luta contra o Antissemitismo israelita, Amichai Chikli.

“As organizações que não têm qualquer ligação com atividades hostis ou violentas e nenhuma ligação com o movimento de boicote serão autorizadas a operar”, garantiu Chikli.

“Esta política já impediu a entrega de ajuda essencial, incluindo medicamentos, alimentos e produtos de higiene”, sublinhou o HCT, salientando que as ONG internacionais “prestam um apoio crucial às organizações não-governamentais palestinianas”.

“Sem esta cooperação, as suas operações serão interrompidas, privando ainda mais comunidades do acesso a alimentos, cuidados médicos, abrigos e serviços de proteção essenciais”, acrescentou.

A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo grupo extremista palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.

A retaliação de Israel já provocou mais de 61 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.

Israel também impôs um bloqueio à entrega de ajuda humanitária no enclave, onde mais de 180 pessoas já morreram de desnutrição e fome, a maioria crianças.

No final de maio, Telavive flexibilizou o bloqueio humanitário total que tinha imposto no início de março, mas só autoriza a entrada de quantidades muito limitadas.

A Faixa de Gaza está agora ameaçada por uma “fome generalizada”, segundo a ONU, que estima que pelo menos 1.373 palestinianos foram mortos, a maioria por tiros israelitas, desde 27 de maio “enquanto procuravam comida”.

”Impedir as ONG de participar na resposta humanitária coletiva viola as obrigações de Israel ao abrigo do direito internacional humanitário e ocorre num momento em que recebemos diariamente relatos de mortes por fome” em Gaza, concluiu o HCT, em nome das organizações humanitárias internacionais que operam nos territórios palestinianos.

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