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Amnistia Internacional alerta para "obstáculos prejudiciais" no acesso ao aborto

LUSA
06-11-2025 00:01h

A Amnistia Internacional alertou hoje para "obstáculos prejudiciais" no acesso ao aborto na Europa, como limites de tempo de gestação curtos, escassez de profissionais, custos elevados, recusas por motivos de consciência ou requisitos medicamente injustificados.

O alerta tem por base o relatório da organização hoje divulgado "Quando os direitos não são reais para todos: a luta pelo acesso ao aborto na Europa", que incide sobre 40 países, incluindo os 27 Estados-membros da União Europeia.

Portugal é destacado como um dos países, a par da Croácia, Bósnia-Herzegovina, Kosovo, Montenegro, Sérvia, Eslovénia e Turquia, onde "um prazo tão curto" para a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) "muitas vezes não permite que as pessoas tenham acesso ao aborto legal e obriga-as a viajar para o estrangeiro para realizar um aborto".

Em Portugal, a IVG pode ser feita, por opção da mulher, até às primeiras dez semanas de gestação.

Segundo a AI, um obstáculo que levou 2.525 mulheres residentes em Portugal a procurarem assistência em Espanha para fazer um aborto, entre 2019 e 2023.

Em Espanha, a IVG é autorizada, a pedido da mulher, até às 14 semanas de gestação.

Portugal é igualmente mencionado no relatório como um país onde a recusa, baseada na objeção de consciência médica, foi o principal motivo para a não realização de abortos em dez hospitais públicos em 2023.

O relatório da AI refere ainda Portugal como um dos países que "continuam a aplicar períodos de espera obrigatórios e desnecessários do ponto de vista médico antes do acesso a um aborto legal", assim como aconselhamento obrigatório.

A organização de defesa dos direitos humanos salienta que, "embora as reformas legislativas em muitos países europeus, com algumas exceções notáveis, tenham tornado o aborto mais acessível, continuam a existir inúmeras barreiras administrativas, sociais e práticas que impedem o acesso universal ao aborto".

De acordo com a AI, "as comunidades marginalizadas, incluindo pessoas com baixos rendimentos, adolescentes, pessoas com deficiência, pessoas LGBTIQ+, profissionais do sexo, pessoas que procuram asilo ou com estatuto migratório precário, são desproporcionalmente afetadas por estes obstáculos".

A Amnistia Internacional adverte que "grupos anti-direitos, cada vez mais bem financiados, intensificam os seus esforços para influenciar negativamente as políticas e as leis, muitas vezes através da propagação do medo e da desinformação, com o objetivo de restringir ainda mais o acesso ao aborto" e exorta os governos europeus a agirem "para garantir o acesso igualitário e universal aos serviços de aborto".

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