As autoridades moçambicanas da saúde reconheceram hoje o “papel crítico” das evidências das pesquisas médicas para melhorar as intervenções de saúde no país, pedindo padrões éticos e de respeito à regulação do setor.
"É importante recordar que a geração de evidências é crítica para melhorar as intervenções de saúde, mas os padrões de ética e o respeito à regulação têm de ser parte da nossa prática", disse hoje, Sérgio Chicumbe, diretor nacional de investigação no Instituto Nacional da Saúde.
O responsável, que falava durante o lançamento das jornadas científicas promovidas pela Organização Não-Governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF), em Maputo, afirmou ser essencial que a geração de evidências científicas e a pesquisa não sejam "um fim por si mesmas".
"Então, a ciência, a evidência científica deve estar ao serviço da vida, da equidade e da justiça social. Esta é a nossa visão que trazemos como Ministério da Saúde", garantiu.
Segundo Sérgio Chicumbe, Moçambique e o setor da saúde nacional enfrenta agora desafios derivados das mudanças económicas extremas, eventos económicos extremos, como cheias, intempéries e ciclones, mas também a questão de deslocamentos internos forçados nas províncias nortenhas que há oito anos enfrenta uma insurgência armada, "aumentando a vulnerabilidade das populações".
Contudo, destacou também a intervenção dos MSF nestes cenários, auxiliando na "mitigação do sofrimento" e "restauração de vidas", através do apoio ao fortalecimento do sistema de saúde do país.
"Então, reconhecemos que desde a chegada da Médicos Sem Fronteiras a Moçambique vocês têm desempenhado um papel vital na resposta a crises de saúde pública em geral, mas também assistência clínica, muitas vezes em contexto de extrema vulnerabilidade e dificuldade no nosso território", disse, destacando a ajuda desta ONG para populações vulneráveis e mais carenciadas no país.
As autoridades de saúde moçambicanas pediram na terça-feira a formação "acelerada e abrangente" de médicos especialistas para melhorar o acesso aos cuidados cirúrgicos e reduzir a falta de profissionais, quando há províncias que têm apenas um cirurgião.
"O rácio ideal é termos 20 cirurgiões por cada 100 mil habitantes e nós estamos muito abaixo disso", disse na altura o chefe do Programa Nacional de Cirurgia, Matchecane Cossa, à margem de uma reunião do Grupo Técnico de Desenvolvimento do Plano Nacional de Cirurgia, Obstetrícia e Anestesia, em Maputo.
O setor da saúde em Moçambique enfrenta vários desafios, agravados nos últimos três anos por greves e paralisações convocadas por médicos e diferentes profissionais do setor, exigindo melhorias das condições de trabalho e revisão de políticas salariais.
O país tem um total de 1.778 unidades de saúde, 107 das quais são postos de saúde, três são hospitais especializados, quatro hospitais centrais, sete são gerais, sete provinciais, 22 rurais e 47 distritais, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde.
Também os MSF, que iniciaram a ajuda humanitária no país em 1984, alertaram em finais do mês passado para a deterioração das condições de vida, como falta de água e saneamento, nos centros de reassentamento das vítimas da nova onda de ataques na província moçambicana de Cabo Delgado.
“As condições de vida nos acampamentos estão-se deteriorando, principalmente devido ao acesso limitado à água potável e saneamento. A situação deve piorar com a chegada da época chuvosa e o aumento do risco de doenças transmitidas pela água”, referia-se na nota daquela Organização ONG, divulgada na altura.
Em causa está uma nova vaga de ataques atribuídos a grupos terroristas, que provocou quase 93 mil deslocados de Cabo Delgado e Nampula, norte de Moçambique, desde finais de setembro, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).