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Médio Oriente: Unicef Portugal alerta que subnutrição infantil em Gaza aumentou 180% e pede donativos urgentes

LUSA
30-07-2025 14:36h

A Unicef Portugal pediu hoje donativos urgentes aos portugueses para dar resposta à catástrofe humanitária em Gaza e na Cisjordânia, lembrando que 18.000 crianças já morreram e que os níveis de subnutrição infantil no enclave aumentaram 180% desde fevereiro.

“A Unicef precisa urgentemente de apoio financeiro e da abertura de corredores humanitários que permitam levar auxílio aos menores de idade”, afirmou a agência da ONU, num comunicado hoje divulgado.

Segundo a organização, são necessários 403,6 milhões de euros adicionais face à dimensão da crise, sendo que a Unicef conseguiu financiamento para apenas 35% do seu apelo de emergência.

“A cada dia que passa, mais crianças pagam com a vida o preço da inação. A situação em Gaza constitui uma emergência humanitária de proporções históricas que não pode continuar a agravar-se”, sublinhou a diretora executiva da Unicef Portugal, Beatriz Imperatori.

Para a agência das Nações Unidas de defesa e promoção dos direitos das criança, as pausas humanitárias em Gaza representam “uma oportunidade vital” para aumentar o acesso e a entrega de ajuda essencial a mais de dois milhões de pessoas, metade das quais crianças, e que estão presas numa crise humanitária sem precedentes.

“Desde o colapso do cessar-fogo a 18 de março, a população de Gaza vive privada dos elementos básicos para a sobrevivência, como água, eletricidade e combustível, fundamentais para garantir o funcionamento dos serviços essenciais”, recordou a organização, adiantando que “as crianças não têm acesso a comida, estão traumatizadas e sem lugar seguro onde se refugiar”.

Citando dados do Ministério da Saúde do enclave, que é controlado pelo grupo islamita Hamas mas cujos dados são considerados fiáveis pela ONU, a Unicef adianta que uma em cada três pessoas em Gaza está em privação alimentar e 80% das mortes por fome reportadas são de crianças.

Por outro lado, além de a ajuda humanitária ser insuficiente, está constantemente sob ameaça.

“Desde 19 de maio, data em que os camiões da Unicef e do Programa Alimentar Mundial conseguiram regressar a Gaza após 78 dias de bloqueio total, a distribuição tem sido marcada por bombardeamentos, falta de combustível, colapso da ordem pública e insegurança extrema”, reforçou a agência.

O atual modelo de distribuição, centrado na Fundação Humanitária de Gaza (estrutura apoiada pelos Estados Unidos e por Israel), aponta ainda a Unicef, “tem exposto os civis a riscos inaceitáveis: mais de 900 pessoas morreram e quase 6.000 ficaram feridas ao tentarem aceder a alimentos, muitas delas crianças”.

Embora a Unicef tenha conseguido entregar alguns alimentos, vacinas e leite infantil, a quantidade é insuficiente e “milhares de crianças e famílias continuam em sofrimento extremo”.

Além da fome e de quase um milhão de pessoas estarem deslocadas e sem abrigo, os palestinianos enfrentam uma escassez de água alarmante, alerta igualmente a organização, referindo que 95% das famílias não têm acesso adequado a este recurso essencial.

“Este financiamento é vital para combater a subnutrição galopante, garantir o acesso a água potável, cuidados de saúde, proteção, educação e apoio financeiro às famílias”, concluiu.

Na terça-feira, a principal autoridade internacional em crises alimentares alertou que “o pior cenário de fome está atualmente a desenrolar-se na Faixa de Gaza”, prevendo “mortes generalizadas” se não for tomada uma ação imediata.

Segundo o sistema de monitorização Classificação Integrada de Fases (IPC), Gaza está à beira da fome há dois anos e os “bloqueios cada vez mais rigorosos de Israel” têm “piorado drasticamente” a situação.

A pressão internacional levou Israel a anunciar medidas no fim de semana, incluindo pausas humanitárias diárias nos combates e lançamentos aéreos de ajuda humanitária, mas a ONU afirma que pouco mudou.

Apesar dos alertas, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, garantiu que ninguém está a passar fome em Gaza e que Israel prestou ajuda suficiente durante a guerra.

A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo grupo extremista palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.

A retaliação de Israel já provocou mais de 60 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.

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