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UE/Cimeira: Conselho Europeu apoia esforços da ONU para escoar cereais da Ucrânia - Costa

LUSA
31-05-2022 17:09h

O primeiro-ministro, António Costa, disse hoje que o Conselho Europeu "manifestou todo o apoio" aos esforços das Nações Unidas e do secretário-geral António Guterres para o escoamento de cereais da Ucrânia, cujo bloqueio ameaça uma crise alimentar.

Em declarações à imprensa após uma cimeira extraordinária de dois dias em Bruxelas, uma vez mais dominada pela guerra na Ucrânia e as suas consequências em diferentes níveis, António Costa apontou que um dos debates foi em torno de “uma das consequências mais graves desta guerra, que é o facto de, em virtude da guerra e do bloqueio, por parte da Rússia, dos portos ucranianos, estar em risco a segurança alimentar a nível mundial”.

“Tivemos a oportunidade de ter a participar, por videoconferência, no Conselho, o presidente da União Africana, o Presidente do Senegal, Macky Sall, que expôs a situação muito difícil que enfrentam vários países africanos e a necessidade de responder com urgência a esta situação de carência, em particular de cereais, indispensáveis para evitar esta crise alimenta”, disse.

António Costa indicou que, “o Conselho manifestou todo o apoio para os esforços que as Nações Unidas e o seu secretário-geral [António Guterres] têm vindo a desenvolver tendo em vista poder assegurar-se a reabertura dos portos da Ucrânia e encontrar rotas de escoamento destas produções agrícolas, de forma a termos uma resposta global a esta situação”.

Durante a sua intervenção hoje perante os líderes europeus, o presidente da União Africana, Macky Sall, apelou ao investimento financeiro e tecnológico da Europa em África para aumentar a produção agrícola, no âmbito da crise de abastecimento causada pela invasão russa da Ucrânia.

“O que nos falta e que podem trazer-nos é o investimento financeiro e tecnológico necessário para produzirmos mais e melhor”, disse Sall, intervindo por vídeo conferência no segundo dia da reunião do Conselho Europeu, quando na ordem de trabalhos se abordou a questão da segurança alimentar.

O líder da UA considerou também que "a situação é preocupante mas o pior ainda está para vir, se a tendência atual [de escassez da oferta e subida dos preços] se mantiver”.

A crise alimentar, salientou ainda, “afeta particularmente” os países africanos “devido à forte dependência das produções russas e ucranianas de trigo”, acrescentando que mesmo antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro, os dados oficiais sobre segurança alimentar indicavam que, em 2020, “282 milhões de pessoas, ou seja, mais de dois terços dos subalimentados no mundo, vivem em África”.

Referindo-se à iniciativa FARM, para a resiliência agrícola e alimentar, Sall desejou que esta seja abordada numa ótica de “parceria e complementaridade”.

Os líderes da União Europeia anunciaram, no final do Conselho Europeu de 24 e 25 de março, a iniciativa FARM para contrariar a escassez de alimentos em países em situação de vulnerabilidade, causada pela guerra na Ucrânia, país considerado ‘o celeiro da Europa’.

Esta iniciativa é baseada em três pilares: comércio, solidariedade e produção – e implica um trabalho multilateral, nomeadamente com a União Africana, para garantir o funcionamento eficiente dos mercados e fomentar a produção local para reduzir o risco de insegurança alimentar.

O debate de hoje teve lugar numa altura em que a guerra em curso na Ucrânia, lançada em fevereiro pela Rússia, está a afetar cadeias de abastecimento, causando receios de rutura de ‘stocks’ e de crise alimentar.

Tanto a Ucrânia como a Rússia são importantes fornecedores dos mercados mundiais, especialmente de cereais e óleos vegetais, como trigo, cevada e milho, sendo que Kiev é também responsável por mais de 50% do comércio mundial de óleo de girassol e um importante fornecedor de ração para a UE.

Estima-se que cerca de 20 milhões de toneladas de trigo estejam retidas na Ucrânia, sendo que a exportação habitual ucraniana neste setor era de cinco milhões de toneladas de trigo por mês.

Para a vizinhança da UE, no Norte de África e no Médio Oriente, tanto a disponibilidade como a acessibilidade de preços estão em risco no que toca ao trigo, o alimento básico, o que também acontece na Ásia e na África subsaariana.

O Norte de África e o Médio Oriente importam mais de 50% das suas necessidades de cereais da Ucrânia e da Rússia.

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