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“Houve uma perda de respeito pelas instituições e uma vontade de fazer julgamentos públicos”, afirma Conselho Directivo da Ordem dos Médicos Veterinários

CANAL S+ / VD
25-07-2020 14:46h

Uma semana depois do incêndio, na Serra da Agrela, que acabou por alastrar a dois abrigos ilegais de Santo Tirso provocando a morte a 73 animais e ao resgaste de 190 para associações, particulares e canis municipais, Sónia Miranda, em entrevista ao Canal S+, garante que “houve uma perda de respeito pelas instituições e uma vontade de fazer julgamentos públicos”.

A veterinária que integra o Conselho Directivo da Ordem dos Médicos Veterinários reage deste modo à suspensão imediata do veterinário municipal anunciada pelo presidente da autarquia de Santo Tirso, o socialista Alberto Costa, que também instaurou um processo disciplinar ao veterinário.

 

Na quinta-feira, a Assembleia da República aprovou, apenas com a abstenção do PCP, uma audição parlamentar ao autarca de Santo Tirso, após um requerimento do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) que pretende ouvir Alberto Costa na Comissão de Agricultura e Mar. A deputada Bebiana Cunha, numa nota divulgada pelo PAN, afirma que ”há responsabilidades politicas do município, nomeadamente do presidente da câmara que se demitiu de exercer as suas competências em matéria de proteção civil com vista ao resgate dos animais, ao mesmo tempo que não exigiu a presença do médico veterinário municipal no local e não providenciou a evacuação dos animais”.

O PAN já sugeriu também a presença no parlamento para prestar mais esclarecimentos do Ministro da Administração Interna, do secretário de estado da Agricultura e da própria Ministra da Agricultura. Por seu lado o Bloco de Esquerda (BE) pretende também ouvir a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) sobre os acontecimentos trágicos de Santo Tirso.

Sónia Miranda recorda que a Ordem dos Médicos Veterinários já alertou, diversas vezes nos últimos anos, para a necessidade dos médicos veterinários integrarem as equipas de proteção civil. Na opinião da responsável só assim se podem evitar tragédias como a de Santo Tirso, defender o bem estar dos animais em situações de emergência.

Para a veterinária, Sónia Miranda, o problema que o incêndio de Santo Tirso veio demonstrar é bem mais vasto do que possamos pensar. Afinal de contas, todos nós temos a ideia que abrigos ilegais como o de Santo Tirso existem um pouco por todo o país. Sónia Miranda garante que “não existe um levantamento nacional desta realidade feito por absolutamente ninguém. Porém, a dimensão do problema dos animais errantes é seguramente muito maior do que pensamos”, assegura.

Todos os anos, milhares de animais são abandonados no nosso país, sobretudo no verão. “É uma realidade assustadora e que nos devia levar a pensar nos porquês”, lembra a veterinária e elemento do Conselho Directivo da Ordem dos Médicos Veterinários. Para Sónia Miranda, “é muito importante educar a população para aquilo que é a existência de um animal no seio familiar”, sublinha.

Para Sónia Miranda é fundamental que as autoridades competentes, a começar pelos municípios e as autoridades centrais se sentem à mesa com a Ordem e a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária para definir um plano de actuação, sobretudo porque “muitos destes abrigos ilegais albergam centenas de animais”. No fundo, assegura a veterinária, o país não tem uma resposta estruturada para apoiar os animais errantes.  “Esse é o passo que tem de ser dado”, avança.

O presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso, Alberto Costa, mostrou-se completamente disponível para colaborar com as autoridades e o Ministério Público nas averiguações que se seguem e deve comparecer à audição parlamentar a 30 de Julho. Entretanto, o Ministro da Administração Interna ordenou um inquérito à GNR e à Proteção Civil relativamente à sua actuação no incêndio da Serra da Agrela e a Procuradoria-Geral da República anunciou a abertura de um inquérito ao caso.

Na noite de Sábado, 18 de Julho, um incêndio destruiu os abrigos “Cantinho das quatros patas” e o “Abrigo de Paredes” vitimando 73 animais e levando 190 a ser resgatados. Numa fase inicial, os proprietários dos abrigos, segundo afirmam populares e o PAN, impediram a entrada de pessoas e de ajuda.

 

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