Eurico Castro Alves, 59 anos, cirurgião geral do Centro Hospitalar e Universitário do Porto (CHUP) garante que o período do Estado de Emergência motivado pela pandemia da COVID-19 criou “um desequilíbrio muito grande”, porque os médicos não só não continuaram a acompanhar os doentes crónicos, como deixaram de inscrever novos doentes para cirurgias”, afirma.
Em entrevista ao Canal S+, o antigo Secretário de Estado da Saúde e presidente do INFARMED, entre 2012-2015, explica que é “urgente criar um plano especial para retomar a actividade programada”, numa altura em que já se sabe que a mortalidade dos portugueses aumentou de facto.
O Presidente da Convenção Nacional da Saúde espera que os 15,3 mil milhões de euros, em transferências a fundo perdido, aprovados pelos 27 estados membros da União Europeia para Portugal, após o último Conselho Europeu, sejam utilizados também para “reestruturar a saúde” ao mesmo tempo que “é preciso eliminar o desperdício e a má gestão”, concluiu.
Eurico Castro Alves que sempre preconizou um “pacto de regime para a saúde” ao lado do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recorda a importância vital que representa para os doentes, crónicos e não crónicos, a retomada da actividade programada seja ela cirúrgica ou consultas assistenciais. Para o presidente da Convenção Nacional da Saúde “Não podemos condenar um doente à morte só porque não tem COVID”.
Na eventualidade de surgir uma vacina eficaz contra a COVID-19, Eurico Castro Alves, que conhece bem os bastidores das negociações entre o Estado e a indústria farmacêutica, afirma que “esperam-se negociações muito difíceis, mas estou convencido que o bom senso vai prevalecer. Está em causa o futuro da humanidade”, atesta o antigo presidente do INFARMED.
Para o antigo Secretário de Estado da Saúde, o desconfinamento após o período do estado de emergência teve falhas, “porque toda a gente já estava muito saturada. Descansamos demais e as medidas foram aliviadas cedo demais”, assegura. “Agora o importante é olhar para a frente. Mas, estou convencido que continua a faltar uma atitude pedagógica e educacional junto da população que devia ter sido feito pelos nossos dirigentes”, concluiu.
A Convenção Nacional da Saúde de 2020 esteve agendada para 23 de Março, na reitoria da Universidade do Porto, mas acabou por ser adiada por causa da pandemia da COVID-19. Segundo o presidente, Eurico Castro Alves, ir-se-á realizar “assim que seja possível” reforçando a ideia da necessidade de um compromisso estratégico para a saúde em Portugal.