O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, defendeu hoje a sua controversa decisão de disponibilizar milhares de camas hospitalares para pacientes com covid-19, apesar de críticas de especialistas.
Em 07 de abril, o Governo húngaro ordenou que os hospitais mantivessem pelo menos 60% das cerca de 70.000 camas disponíveis para doentes infetados com covid-19, se necessário, providenciando a alta de outros pacientes.
A decisão foi severamente criticada por especialistas em saúde pública, que alertaram para o facto de essa estratégia sanitária colocar em risco a vida das pessoas com outras doenças graves.
Hoje, na sua comunicação radiofónica semanal, Viktor Orban veio em defesa da posição do seu Governo, argumentando que o país se encontra “no meio de uma grande operação militar, que causa desconforto", mas defendeu que “não há outra solução”.
Desde que os hospitais implementaram essa medida, os meios de comunicação social na Hungria têm reproduzido depoimentos de pacientes, ou seus familiares, que dizem não ter outra alternativa de acolhimento que não seja a sua própria casa, enquanto o país está sujeito a um regime de confinamento.
A Hungria, com pouco menos de 10 milhões de habitantes, registou quase 1.800 infeções por Covid-19 e 156 mortes.
Contudo, segundo o primeiro-ministro, o número de casos deve aumentar significativamente no país, que “está a entrar numa fase de infeção maciça”.
“Esperamos o melhor, mas estamos a preparar-nos para o pior”, explicou Orban, mantendo a sua decisão, apesar de dois diretores de grandes hospitais já se terem demitido, como forma de protesto contra a decisão de evacuação de enfermarias.
Os especialistas também argumentam que a atual taxa de infeção na Hungria não justifica essa decisão.
“Não é possível que 30.000 pessoas fiquem doentes ao mesmo tempo”, disse Ferenc Falus, ex-diretor médico, acrescentando que, por outro lado, “será um desastre se os pacientes que não estão doentes (com coronavírus) e que necessitam de cuidados forem devolvidos às suas famílias”.
Para Falus, seria muito mais sensato criar hospitais temporários para doentes com covid-19.
A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 145 mil mortos e infetou mais de 2,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 465 mil doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa quatro mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.
Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, alguns países começaram a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos, como Dinamarca, Áustria ou Espanha, a aliviar algumas das medidas.