Estados Unidos, 25 nov 2025 (Lusa) - A Califórnia e outros três estados norte-americanos denunciaram hoje a "desinformação perigosa" do Governo liderado por Donald Trump sugerindo uma ligação entre vacinas e autismo, alertando que "ameaça a segurança da saúde pública" do país.
Desde que regressou ao poder, Donald Trump nomeou como secretário da Saúde e Serviços Humanos Robert Kennedy Jr., conhecido pelas suas posições antivacinas e teorias da conspiração.
Kennedy Jr. afirmou, por exemplo, que a pandemia de covid-19 foi criada para poupar os "judeus asquenazes e chineses" e alegou que a SIDA não foi causada pelo VIH.
Apelidado de "RFK", o septuagenário iniciou uma ampla reforma das agências de saúde através de despedimentos em massa e cortes orçamentais, e prometeu descobrir as causas daquilo a que chama 'epidemia' de autismo.
Na semana passada, os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), a principal agência de saúde dos Estados Unidos, atualizaram o seu 'site' para fazer eco das opiniões do secretário de Saúde.
O 'site' do CDC sugere agora uma possível ligação entre as vacinas e o autismo.
Esta mudança de posição foi denunciada pela comunidade científica, com alguns especialistas em autismo a acusarem a administração Trump de regressar à "Idade Média" ao ignorar dados científicos.
A este coro de críticas juntaram-se agora os estados da Califórnia, Oregon, Havai e Washington.
Estes quatro estados democratas, que formaram uma "aliança de saúde" em setembro para propor as suas próprias diretrizes, afirmam estar "profundamente preocupados" com a mudança de posição dos CDC e aconselham os pais norte-americanos a continuarem a vacinar os seus filhos.
"A falta de uma liderança federal consistente e baseada na ciência representa uma ameaça direta à segurança sanitária da nossa nação", sublinharam, referindo que os casos de sarampo estão a atingir "níveis recorde sob a administração Trump desde que os Estados Unidos erradicaram a doença em 2000".
A teoria falsa que associa o autismo a uma vacina infantil — a vacina contra o sarampo, a papeira e a rubéola (SCR) — tem origem num estudo publicado em 1998, que foi posteriormente retratado e repetidamente refutado.
"Investigações rigorosas envolvendo milhões de pessoas em diversos países ao longo de décadas fornecem provas de alta qualidade de que as vacinas não estão ligadas ao autismo", insistiram os estados.
"Os americanos merecem aconselhamento de saúde pública baseado na ciência — e não em opiniões", acrescenta o governador da Califórnia, Gavin Newsom, citado no comunicado.