Todos os 24 líderes europeus de 19 países que fizeram análises ao sangue à presença de “químicos eternos” (que persistem no ambiente) no organismo testaram positivo, revelou hoje a organização Gabinete Europeu do Ambiente (EEB).
A 10 de julho passado os responsáveis europeus pela pasta do Ambiente e Clima foram convidados pelo Ministério do Ambiente da Dinamarca a fazerem análises à presença no organismo dos chamados “químicos eternos”, tendo o secretário de Estado do Ambiente português feito a análise e testado positivo à presença destes químicos no organismo.
O convite aos ministros decorreu no âmbito da reunião informal do Conselho da União Europeia (UE) que se realizou em Aalborg, na Dinamarca.
As análises ao sangue serviram para detetar a presença de substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas (PFAS), chamadas “químicos eternos” por persistirem no ambiente sem se degradarem. Essas substâncias estão associadas ao cancro e a outros riscos graves para a saúde.
A iniciativa foi liderada pelo Ministério do Ambiente e da Igualdade de Género da Dinamarca, com o EEB, uma coligação de organizações ambientalistas europeias, e o “ChemSec”, Secretariado Internacional de Produtos Químicos, uma organização que defende a substituição de produtos químicos tóxicos por alternativas mais seguras.
Segundo um comunicado do EEB todos estavam contaminados, incluindo a Comissária Europeia para o Ambiente, Jessika Roswall, e o ministro do Ambiente dinamarquês, Magnus Heunicke.
E em metade dos dirigentes testados a contaminação excedeu os níveis além dos quais não se podem excluir impactos na saúde.
Seis dos PFAS detetados já estão regulamentados na Europa, tendo um impacto duradouro e sendo uma ameaça à saúde humana e ao ambiente.
A iniciativa expõe “a contaminação generalizada dos PFAS e, espera-se, incentivará os líderes da UE a responderem rapidamente à crescente urgência desta crise de poluição”, diz o EEB no comunicado.
“O custo humano e económico da inação face à poluição por PFAS já é impressionante e cresce a cada dia. Os decisores devem fechar a torneira urgentemente, responsabilizar os poluidores e interromper este ciclo de danos. As pessoas precisam de voltar a ter confiança na água que bebem e nos alimentos que comem”, disse Patrick ten Brink, secretário-geral do EEB.
Segundo o comunicado, entre três e oito substâncias químicas PFAS — das 13 testadas — foram detetadas no sangue de todos os lideres da UE testados, tendo uma delas, PFOS, regulamentada em 2008, apresentado as concentrações mais elevadas.
Apesar da contaminação generalizada, o EEB destaca também que há motivos de esperança. Uma das líderes da UE – Leena Ylä-Mononen, diretora executiva da Agência Europeia do Ambiente – que tinha testado o sangue anteriormente, mostrou um declínio nos níveis de PFAS.
“Estes resultados comprovam duas coisas: a contaminação por PFAS não poupa ninguém e a regulamentação funciona”, disse Anne-Sofie Bäckar, diretora executiva da ChemSec, citada no comunicado.
E acrescentou: “Onde há proibições em vigor, os níveis começam a cair – evidência clara de que leis rigorosas protegem as pessoas”.
É preciso, disse, uma proibição universal de todos os PFAS. Se por um lado as restrições antigas começam a reduzir a exposição, os novos PFAS “continuam a acumular-se no sangue das pessoas”, alerta o EEB, explicando que as empresas substituem um produto químico nocivo regulamentado por outro não regulamentado e provavelmente prejudicial.
Segundo o comunicado a eliminação da contaminação existente poderá custar à UE até 2 biliões de euros nos próximos 20 anos – sem incluir os 52 a 84 mil milhões de euros adicionais em custos anuais relacionados com a saúde.
O EEB recorda que a UE se prepara para rever o quadro regulamentar e também considera a proposta de "restrição universal aos PFAS" apresentada por cinco Estados-Membros (Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Noruega e Suécia).
O EEB, a ChemSec e mais de 100 organizações em toda a Europa lançaram o manifesto “Stop PFAS”, instando os líderes da UE a agirem apoiando a restrição universal aos PFAS.