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Associação pede maior reflexão sobre modelo de cuidados de saúde na gravidez

Lusa
24-09-2025 11:34h

A Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) pediu hoje maior reflexão sobre o modelo de cuidados de saúde durante a gravidez, alertando que enfermeiros e médicos têm perfis e competências diferentes.

A APMGF reagia, em comunicado, a declarações da ministra da Saúde, que na terça-feira, no parlamento, se mostrou disponível para avaliar a proposta de acompanhamento das grávidas de baixo risco que não tenham médico de família por enfermeiros especialistas em cuidados de saúde materna e obstetrícia.

A APMGF considera que uma eventual concretização desta abordagem “não constitui uma verdadeira solução” e defende que a excelência dos cuidados durante a gravidez só é alcançada através de um trabalho multidisciplinar e integrado, onde cada profissional contribui com as suas competências específicas.

“Médicos não substituem enfermeiros e enfermeiros não substituem médicos. Cada profissão tem o seu valor único e insubstituível”, considera a associação, acrescentando: “O desafio que se coloca é encontrar formas de potenciar essa complementaridade em benefício da saúde de todas as mulheres e crianças portuguesas”.

Lembra igualmente que o internato de Medicina Geral e Familiar, com uma duração de quatro anos, prepara os futuros médicos de família para uma abordagem integral da saúde, incluindo competências específicas em saúde reprodutiva, vigilância da gravidez, cuidados pediátricos e dinâmicas familiares.

Insistindo na importância de um trabalho conjunto e multidisciplinar, a APMGF considera que a divulgação de informações relativas a “alterações profundas” no programa de vigilância, antes mesmo das conclusões dos grupos de trabalho anunciados, “é um fator de preocupação”, uma vez que as soluções devem ser baseadas em evidência.

Na nota enviada às redações, a associação defende “uma aposta clara” no reforço do Serviço Nacional de Saúde, com investimento na contratação e retenção de profissionais, na valorização das carreiras e na utilização de todas as capacidades disponíveis — públicas, sociais e privadas — “sem nunca perder de vista que o centro da intervenção deve ser a mulher, a criança e a família”,que devem ter “cuidados de qualidade, próximos e equitativos”.

Manifesta ainda disponibilidade para colaborar com o Ministério da Saúde e com a Ordem dos Enfermeiros no desenvolvimento de modelos de cuidados que maximizem a complementaridade entre as duas profissões.

A associação defende que o futuro dos cuidados de saúde primários e da saúde materna em Portugal “não pode assentar em soluções de substituição entre profissões”, mas sim em modelos de colaboração que reforcem a segurança clínica, a continuidade assistencial e a qualidade dos cuidados.

“Só através do trabalho conjunto de médicos, enfermeiros e outros profissionais será possível reduzir desigualdades em saúde, prevenir complicações na gravidez, diminuir a mortalidade materna e infantil e assegurar um acompanhamento integral da mulher e da criança”, conclui.

Na audição parlamentar de terça-feira, ao mostrar disponibilidade para avaliar o acompanhamento de grávidas de baixo risco sem médico de família por enfermeiros especialistas, proposta pela Ordem dos Enfermeiros, a ministra adiantou que tal vigilância terá de ser feita em articulação com a medicina geral e familiar e com as unidades obstétricas hospitalares.

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