A agência norte-americana para os medicamentos e alimentação (FDA, na sigla em inglês) anunciou o início da aprovação de leucovorina como tratamento para crianças com autismo e deficiência de folato (DFC) no cérebro.
De acordo com nota divulgada na noite de segunda-feira pela FDA, este medicamento genérico, utilizado sobretudo para tratar doentes com cancro e anemia, pode ajudar as crianças com autismo a melhorar a sua comunicação verbal.
O anúncio da FDA foi feito no mesmo dia em que o Presidente norte-americano, Donald Trump, sugeriu na Casa Branca que o aumento do autismo no país pode ter como causa o uso do analgésico paracetamol em grávidas e a vacinação, sem apresentar provas científicas.
Segundo refere a nota da FDA, "observou-se que os indivíduos com deficiência cerebral de folato apresentam atrasos no desenvolvimento com características autistas (por exemplo, dificuldades com a comunicação, processamento sensorial e comportamentos repetitivos), convulsões e problemas de movimento e coordenação”.
A FDA afirma ter realizado uma análise sistemática da literatura publicada entre 2009 e 2024, incluindo relatos de casos publicados com informações sobre pacientes, tendo determinado que as "informações corroboram a descoberta de que a leucovorina cálcica pode ajudar indivíduos que sofrem de DFC”.
Marty Makary, comissário da FDA, salienta na nota o “trágico aumento de quatro vezes no autismo em duas décadas" no país e que "as crianças estão a sofrer e merecem ter acesso a potenciais tratamentos que se têm mostrado promissores”.
A FDA refere que está AGORA a trabalhar com a farmacêutica GSK, fabricante do Wellcovorin (leucovorina cálcica), para a utilização segura e eficaz deste medicamento em doentes adultos e pediátricos com DFC, alargando a bula existente.
Ladeado por Robert F. Kennedy Jr., secretário da Saúde e um dos rostos do movimento antivacinas no país, Trump sugeriu na Casa Branca a imposição de limites ao uso de paracetamol - mais conhecido nos Estados Unidos pela marca Tylenol - durante a gravidez, citando o medicamento como uma possível causa do autismo, apesar de esta ligação causal ter sido investigada e não estar comprovada, refere a agência AP.
Trump disse que o paracetamol, analgésico amplamente utilizado e recomendado, está "possivelmente associado a um risco muito maior de autismo" e que as mulheres não devem tomá-lo, "durante toda a gravidez".
"Não tomem", apelou Trump na Casa Branca, numa comunicação apresentada como "um grande anúncio" sobre autismo, que tem estado a aumentar acentuadamente no país nos últimos anos.
Segundo Trump, a FDA vai começar a notificar os médicos de que o uso de paracetamol "pode estar associado" a um risco acrescido de autismo, sem apresentar qualquer prova médica que fundamente a nova recomendação.
Em alternativa, apresentou rumores de que "praticamente não há autismo" em Cuba porque o país não tem condições para comprar Tylenol, a marca mais popular de paracetamol.
Os especialistas afirmam que o aumento de casos nos Estados Unidos se deve sobretudo a uma nova definição para a perturbação, que passa a incluir casos ligeiros num "espectro" e diagnósticos mais precisos, e que não existe uma causa única, refere a AP.
Na comunicação, Trump também levantou preocupações infundadas sobre a contribuição das vacinas para o aumento das taxas de autismo, que afeta 1 em cada 31 crianças no país atualmente, de acordo com os CDC.
No domingo, Trump prometeu para hoje um grande acontecimento, dizendo aos jornalistas: "Acho que encontrámos uma resposta para o autismo".
O secretário da Saúde disse que, a pedido de Trump, está a lançar um esforço "de todas as agências" governamentais para identificar as causas do autismo, envolvendo os Institutos Nacionais de Saúde, a FDA, os CDC e os Centros de Serviços Medicare e Medicaid.