O exército israelita começou a contactar médicos e trabalhadores de organizações humanitárias em Gaza, no norte, para que se desloquem para o sul, no âmbito dos preparativos da tomada da cidade, anunciaram hoje os militares.
O aviso começou a ser feito na terça-feira pela COGAT, a autoridade militar israelita responsável pelos territórios palestinianos, segundo um comunicado citado pelas agências espanholas EFE e Europa Press.
“Como parte dos preparativos para a transferência da população da cidade de Gaza para o sul, (…) a direção de coordenação e ligação da COGAT emitiu os primeiros alertas aos médicos e organizações internacionais”, disse o exército.
No contacto, foi pedido a cada organização que preparasse “um plano para transferir a equipa médica do norte para o sul, de modo a poder atender todos os pacientes no sul da Faixa”.
Os militares disseram que os hospitais no sul da Faixa de Gaza estavam a ser adaptados para “receber doentes e feridos, juntamente com um aumento na entrada de equipamento médico necessário, de acordo com os pedidos das organizações internacionais”.
O comando israelita partilhou uma gravação de uma chamada telefónica em que um membro do COGAT, com a voz distorcida, avisava um funcionário da saúde “sobre a possibilidade de o exército entrar na cidade de Gaza”.
Avisava ser necessário proceder à “evacuação prévia” da cidade.
“Assim, poderão prestar assistência a todos os pacientes no sul da Faixa e preparar os hospitais para receber os pacientes que vêm do norte”, disse o elemento do COGAT, de acordo com a gravação.
O mesmo elemento disse ser importante que os médicos recebam a informação de uma fonte oficial e que lhes será proporcionado “um lugar para ficar, seja um hospital de campanha ou qualquer outro hospital”.
A EFE não conseguiu obter testemunhos de médicos de Gaza que confirmassem ter recebido as chamadas de elementos do COGAT.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ordenou ao exército na quarta-feira que encurtasse os prazos “para tomar o controlo dos últimos bastiões terroristas e garantir a derrota do Hamas”.
Horas depois, o exército anunciou que já controlava as entradas da capital do enclave palestiniano.
Cinco divisões do exército devem participar na ofensiva, para a qual foram mobilizados 60.000 reservistas adicionais, de acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP).
O plano prevê a deslocação da população da cidade de Gaza para o sul, mas o chefe da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos, Philippe Lazzarini, advertiu hoje que “muitos nem sequer terão forças para se deslocar”.
Os palestinianos estão enfraquecidos após cerca de dois anos de conflito armado e sofrem de fome, principalmente as crianças, com uma taxa de desnutrição grave que se multiplicou por seis desde março, segundo a agência conhecida pela sigla inglesa UNRWA.
“Isto significa que, se nenhuma medida for tomada, certamente [essas crianças] estão condenadas à morte”, afirmou Lazzarini num evento organizado pelo Clube de Imprensa Suíço em Genebra, citado pela EFE.
A guerra em Gaza foi desencadeada pelo ataque de 07 de outubro de 2023 do Hamas no sul de Israel, que causou cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.
A ofensiva israelita que se seguiu ao ataque provocou mais de 62.100 mortos até agora, segundo dados do governo do Hamas, que controla o território desde 2007.
O grupo extremista é qualificado como uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.