A ONG Save the Children denunciou hoje pelo menos uma centena de crianças morre de fome na Faixa de Gaza com ajuda alimentar a poucos quilómetros de distância e apela a “uma ação urgente” da comunidade internacional.
Enquanto o Governo de Israel prepara a ampliação da ofensiva contra a Palestina, a Organização Não-Governamental (ONG) Save The Children critica o mundo em que vivemos que permite que pelo menos 100 crianças morram de fome a poucos quilómetros de ajuda alimentar num posto transfronteiriço.
“Que tipo de mundo construímos para permitir que pelo menos 100 crianças morram de fome enquanto alimentos, água e suprimentos médicos para salvá-las aguardam a poucos quilómetros de distância num posto fronteiriço”, questionou Ahmad Alhendawi, diretor da ONG para o Médio Oriente , Norte da África e Europa Oriental.
Ahmad Alhendawi disse que o Governo israelita está a usar a fome como "método de guerra” e que isso constitui um crime de guerra segundo o Direito Internacional.
“Este incumprimento do dever legal afeta-nos a todos. É uma cicatriz moral na nossa humanidade partilhada e uma vergonha para o mundo”, afirmou Ahmad Alhendawi, reconhecendo que esta tragédia era “totalmente previsível e evitável”, porque as organizações humanitárias andam há meses a alertar.
“Sabíamos que isto iria acontecer. Ninguém pode negar”, afirmou.
Os números de mortos fornecidos pelo Ministério da Saúde de Gaza “são apenas a ponta do iceberg”, porque os dados são sobre o que resta dos centros de saúde” da Faixa, destacou.
Ahmad Alhendawi também alertou que, para as crianças, as condições de desnutrição podem causar problemas de saúde para toda a vida, como atraso no crescimento, enfraquecimento do sistema imunológico e insuficiência orgânica. Os efeitos podem afetar gerações, e seus impactos nas crianças dificultam a aprendizagem e o desenvolvimento, “criando um ciclo de pobreza para toda a população”.
“Mesmo aqueles que sobreviverem podem ser condenados a uma vida de sofrimento, a menos que o governo de Israel permita urgentemente o acesso total, imediato e sem restrições a alimentos vitais, água potável, suprimentos médicos e pessoal”, afirmou o diretor regional da Save the Children.
Nesse sentido, ressaltou que, enquanto os “números insuportáveis” aumentam cada vez mais, não se deve “perder de vista que não se trata apenas de números, mas de vidas jovens, cheias de potencial” e que, em outros lugares do mundo, “elas poderiam ter crescido saudáveis, com um teto, uma família para cuidar delas, educação e oportunidades para o futuro”.
As autoridades da Faixa de Gaza, controlada pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), estimaram em mais de 61.400 o número de mortos pela ofensiva israelita desencadeada após os ataques de 7 de outubro de 2023, incluindo cerca de 220 por fome ou desnutrição.