A diretora do Programa Alimentar Mundial (PAM) apelou hoje à comunidade internacional para que socorra os somalis "traumatizados e famintos", enquanto a insegurança alimentar "aumenta novamente" no país vítima de conflitos armados e da seca.
“Eu viajei para a Somália no mês passado e vi em primeira mão como o conflito e as alterações climáticas se combinam para destruir as vidas e os meios de subsistência de milhões de somalis”, disse Cindy McCain ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), descrevendo as jornadas de “violência, medo e fome” desse povo.
No final de 2022, o país, vítima de uma seca histórica iniciada em 2020, escapou à fome generalizada graças à intensificação da resposta humanitária.
“Mas hoje corremos o risco de perder os valiosos avanços conquistados desde aqueles dias sombrios do ano passado”, alertou.
De acordo com a líder do PAM, os números mais recentes mostram que a insegurança alimentar está a aumentar na Somália.
"Espera-se que mais de 6,6 milhões de pessoas - um terço da população - enfrentem uma crise alimentar ou níveis ainda piores de fome. Isso inclui 40.000 pessoas a lutar para sobreviver em condições de quase fome", explicou Cindy McCain.
“Pior ainda, espera-se que 1,8 milhões de crianças sofram de desnutrição aguda em 2023”, frisou.
Desde o início de 2022, os conflitos armados "causaram mais de um milhão de deslocamentos internos", somados aos 2,1 milhões de deslocados devido a desastres climáticos nos últimos três anos, observou a diretora.
“Por força de serem constantemente forçadas a mudar-se, as pessoas são pobres, traumatizadas e famintas”.
Apesar dessas condições, o PAM é obrigado a reduzir a sua "vital" ajuda alimentar por falta de meios suficientes.
Em dezembro, a agência da ONU poderia fornecer ajuda alimentar a um "recorde" de 4,7 milhões de pessoas por mês, mas no final de abril, viu-se obrigada a reduzir essa ajuda para três milhões por mês, insistiu Cindy McCain.
“E sem uma injeção imediata de dinheiro, ainda teremos que reduzir as nossas listas de beneficiários em julho para apenas 1,8 milhões por mês”, alertou.
A ONU apelou por 2,6 mil milhões de dólares (2,37 mil milhões de euros) para a Somália em 2023, mas o plano de ajuda humanitária está financiado em apenas 30%.