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Presidente da União Africana defende fim da dependência alimentar de África

LUSA
25-01-2023 16:25h

O chefe de Estado senegalês e presidente rotativo da União Africana (UA), Macky Sall, descreveu hoje a crise alimentar mundial que afeta África como algo "da maior urgência" e defendeu o fim da dependência alimentar do continente.

"É evidente que esta prioridade se tornou um assunto da maior urgência, uma vez que os nossos países estão a experimentar toda a força das alterações climáticas, a pandemia de covid-19 e uma grande guerra (Rússia-Ucrânia)", disse Sall no seu discurso de abertura na Cimeira Africana da Alimentação de Dacar 2, que está a ser realizada em Diamniadio, uma cidade em construção a cerca de 36 quilómetros da capital senegalesa.

"Se acrescentarmos a escassez de fertilizantes e o aumento dos preços (…), esta crise sem precedentes desafia-nos sobre a urgência de o nosso continente acabar com a sua dependência alimentar do mundo exterior", acrescentou.

Durante o seu discurso, Sall salientou que "a África deve aprender a alimentar-se a si própria e a contribuir para alimentar o mundo".

A este respeito, recordou o potencial agrícola do continente africano, com mais de 65% das terras aráveis inexploradas do mundo.

"É o paradoxo de um continente que continua a importar a maior parte dos seus produtos alimentares", advertiu.

Sall recordou o "compromisso voluntário" exigido na sequência do acordo dos chefes de Estado e de Governo africanos na Declaração de Maputo de julho de 2003, de consagrar pelo menos 10% do orçamento nacional ao setor agrícola.

"Face a uma crise sem precedentes, encontramo-nos numa encruzilhada. Há o caminho da 'África dos problemas', que nos mantém no 'status quo' de uma agricultura que continuará a expor-nos à insegurança alimentar altamente dependente dos riscos climáticos", indicou Sall.

"Mas há, por outro lado, o caminho da 'África das soluções' que nos coloca na perspetiva de uma agricultura moderna e nos leva para além da resiliência em direção à sobriedade alimentar", acrescentou, referindo que espera que esta cimeira de alto nível entre na dinâmica da "África das soluções".

Por seu lado, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sublinhou hoje a necessidade de se concentrar na transformação do sistema alimentar no continente africano.

"A transformação do sistema alimentar é fundamental para aliviar a pobreza, promover a segurança alimentar, promover o desenvolvimento sustentável e criar empregos produtivos, especialmente para mulheres e jovens", disse Guterres através de uma declaração lida por um porta-voz da ONU, uma vez que não pode estar presente.

Guterres apelou à "plena implementação da Área de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA), com o seu enorme potencial para aumentar a produtividade agrícola, criar cadeias de valor agrícola e expandir o comércio, incluindo o comércio intra-africano".

Também salientou a necessidade de trabalhar para resolver "urgentemente" a crise no mercado global de fertilizantes.

"A escassez global de fertilizantes transformar-se-á rapidamente numa escassez global de alimentos este ano", advertiu Guterres.

Sob o tema "Alimentar África: Soberania e Resiliência Alimentar", este fórum decorre até sexta-feira e reunirá mais de 20 chefes de Estado e de Governo, bem como o setor privado, agências da ONU e ONG no Centro Internacional de Conferências Abdou Diouf (CICAD), em Diamniadio.

Esta cimeira de alto nível foi organizada pelo Senegal e pelo Grupo do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) para procurar soluções para o desafio da segurança alimentar em África e para reforçar a resistência a futuras crises.

Esta é a segunda edição da cimeira, a seguir à que se realizou em Dacar em 2015, que adotou a estratégia do BAD "Feed Africa: Strategy for the Transformation of Agriculture in Africa (2016-2025)".

O continente africano tem 65% das terras mais aráveis do mundo e recursos hídricos abundantes, com potencial para alimentar 9 mil milhões de pessoas no mundo até 2050, de acordo com o BAD.

Só as suas vastas áreas de savana estão estimadas em 400 milhões de hectares, dos quais apenas 10% são cultivados.

No entanto, com 249 milhões de pessoas, representa um terço da atual população mundial faminta.

Segundo o BAD, com a eliminação dos obstáculos ao desenvolvimento agrícola e a ajuda de novos investimentos, a produção agrícola africana poderia aumentar de 280 mil milhões de dólares por ano para 1 bilião de dólares até 2030.

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