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Covid-19: “A pandemia veio tornar a acessibilidade aos cuidados de saúde ainda menor”, afirma médica do ACES de Lisboa Central

CANAL S+ / VD
23-12-2020 22:38h

Se antes da pandemia, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) já acusava algumas fragilidades nos Cuidados de Saúde Primários, como se constatava em alguns ACES e Centros de Saúde, Mónica Fonseca garante que “a pandemia veio tornar a acessibilidade aos cuidados de saúde ainda menor”.

A médica de família, na Unidade de Saúde Familiar (USF) Sofia Abecassis, no centro de Lisboa afirma que os colegas estão muito cansados, alguns com sinais de exaustão, dado que há meses que se encontram sobrecarregados de trabalho.

A dirigente da secção regional do Sul da Ordem dos Médicos (OM) garante em entrevista ao Canal S+ que “tem sido um grande desafio” monitorizar doentes COVID-19, ao mesmo tempo que se continua a fazer a atividade assistencial aos doentes não-COVID, “com os mesmos recursos”, atesta.

Após dez meses de pandemia, e de um trabalho intenso com muitas horas extra, Mónica Fonseca assegura que são, cada vez mais, os médicos de família em exaustão. A dirigente da secção regional do Sul da Ordem dos Médicos (OM) lamenta, mas “os médicos de medicina geral e familiar não conseguem estar em dois locais ao mesmo tempo”. Para a especialista é fundamental que se oiçam os profissionais e que “se mude a estratégia de vigilância dos doentes COVID-19” que, por um lado, têm de acompanhar os doentes COVID e vigiá-los e, por outro, continuar a fazer consultas aos doentes não COVID.

A especialista em Medicina Geral e Familiar lembra que, por causa dos doentes COVID, só “no 1º semestre de 2020, existiram 5 milhões de consultas presenciais a menos”.

Nesta entrevista ao Canal S+, Mónica Fonseca diz ainda não ter recebido nenhuma comunicação oficial sobre o Plano Nacional de Vacinação, apresentado pela Task-Force, liderada pelo antigo secretário de estado da saúde, Francisco Ramos.

A médica do ACES Lisboa Central afirma-se preocupada com a forma como a vacinação vai decorrer nos próximos meses, dado que “acaba por ser um processo complexo que devia ter auditoria constante, em todas as fases”, afirma.

Mónica Fonseca lembra que “na distribuição de vacinas é fundamental que os ACES saibam o número exato e quando é que as têm”. Caso contrário, corre-se o risco de repetir o que aconteceu com a gripe, o que para a dirigente da secção regional do Sul da Ordem dos Médicos (OM) “não é aceitável que aconteça”.

A especialista em Medicina Geral e Familiar sublinha ainda que o Plano Nacional de Vacinação é omisso na forma como “vamos fazer os registos adversos das vacinas”. A médica do ACES de Lisboa Central diz que importa ainda saber como “será a estratégia para os centros de saúde com carência de recursos”. Para Mónica Fonseca no caso de existirem centros sem capacidade para vacinar, deviam ser criadas unidades móveis de vacinação.

A dirigente do conselho regional do sul da Ordem dos Médicos (OM) confirma que “é um grande teste para o SNS“, mas mesmo assim “queremos colaborar com este plano, mas sem reduzir a nossa atividade assistencial não-covid”. 

Com o Natal à porta, Mónica Fonseca insiste nas recomendações às famílias para se acautelarem nos encontros e, caso os tenham, manterem as medidas profiláticas contra a propagação do vírus da COVID-19, como seja o distanciamento físico e o uso de máscara, até porque “o vírus não tira férias no Natal”, recorda.

Mónica Fonseca gostava que o Ministério da Saúde e o Governo ouvissem mais os profissionais de saúde, para que fossem evitadas situações como a de existir uma plataforma de seguimento de casos COVID-19 que “não permite prescrever medicamentos, referenciar doentes ou emitir baixas médicas”.

 Na opinião da dirigente do conselho regional do Sul da Ordem dos Médicos (OM) também “não é admissível que muitos centros de saúde e ACES tenham apenas uma única linha telefónica disponível, durante uma pandemia, em que a maior parte das consultas é feita por telefone”. Em resultado disto, “perdem-se diariamente centenas de chamadas de utentes e os próprios doentes ficam frustrados e impedidos de aceder aos cuidados de saúde. Ainda por cima, nós não temos forma de saber que nos ligaram”, esclarece a médica de família do ACES Lisboa Central.

 

 

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