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Covid-19: “Nós no Inverno, a pior coisa que podíamos fazer era suspender a actividade não COVID”, afirma Bastonário da Ordem dos Médicos

CANAL S+ / VD
05-08-2020 19:01h

Em entrevista ao Canal S+, Miguel Guimarães não tem dúvidas que a suspensão da actividade programada nos hospitais e centros de saúde do país, durante o estado de emergência e no período subsequente, é a principal responsável pelo elevado número de mortes registado em Portugal em Julho.

Dados revelados ontem pelo Jornal “Público” que cita o Sistema Nacional de Vigilância da Mortalidade (eVM) indicam que morreram no mês passado 10.390 pessoas no nosso país, o valor mais alto do mês de Julho dos últimos 12 anos.

O Bastonário da Ordem dos Médicos recusa as explicações avançadas pela Direção Geral de Saúde (DGS) que se justifica com as ondas de calor registadas no mês passado. O médico urologista do Hospital São João garante que tudo se deve ao facto dos doentes “não-COVID” terem ficado para trás, sem a habitual assistência. Para o clínico “Nós no Inverno, a pior coisa que podíamos fazer era suspender a actividade não COVID,“ alerta.

Cinco meses depois da pandemia da COVID-19 ter chegado a Portugal, o bastonário da Ordem dos Médicos faz o balanço possível de toda a situação e lembra que “o confinamento correu bem e o desconfinamento menos bem”. Para Miguel Guimarães, Portugal devia ter seguido o exemplo de outros países europeus onde a actividade programa foi mantida, apesar da pandemia. O clínico recorda que “não se realizaram 1 milhão de consultas nos hospitais centrais e 3 milhões nos centros de saúde”.

Neste grande entrevista ao Canal S+, o bastonário da Ordem dos Médicos explica ainda que a retoma da actividade programada tem estado a ser feita, sobretudo nos hospitais mas o mesmo não se pode dizer dos Cuidados de Saúde Primários, ou seja dos centros de saúde. Para Miguel Guimarães “uma chamada telefónica, não pode ser confundida com uma consulta médica”. O bastonário da Ordem dos Médicos defende como solução o reforço dos meios tecnológicos, com recurso a imagem, para permitir o que a lei estipula e define para a telemedicina.

Miguel Guimarães entende, por isso, que a retoma está em curso mas em regime “conta gotas”.

Sobre a obrigatoriedade de uso de máscara na Região Autónoma da Madeira, decretada a semana passada, sempre que os cidadãos saem à rua, Miguel Guimarães tece os maiores elogios à medida e ao Governo de Miguel Albuquerque. O bastonário da Ordem dos Médicos explica que a região autónoma tem os melhores números de todo o território nacional e “muitas das medidas decretadas lá, deviam ser encaradas de outra forma cá”.

Até ao momento, o arquipélago da Madeira registou 105 casos positivos de COVID-19, sem vítimas mortais. Apenas 8 se encontram ainda activos e 1 deles teve necessidade de passar pelos Cuidados Intensivos. Miguel Guimarães comenta ainda a actuação dos profissionais de saúde no decurso da pandemia.

O médico assegura que o empenho foi total, apenas lamenta que as “pessoas ao mais alto nível em Portugal não estejam preparadas para gerir capital humano”, atesta.

De acordo com o último boletim divulgado pela Direção Geral da Saúde (DGS), Portugal registou 51 848 casos positivos de COVID-19, dos quais 37 565 recuperaram e há a lamentar 1740 mortos.

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