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Covid-19: Trabalhadores em maior risco representam entre 17% e 31% do emprego – estudo

LUSA
01-06-2020 16:42h

O número de trabalhadores em maior risco por causa da pandemia de covid-19 representa entre 17% e 31% do total do emprego em Portugal, de acordo com um estudo da Católica Lisbon.

O trabalho, o primeiro do PROSPER – Center of Economics for Prosperity é da responsabilidade da Professora Joana Silva e será esta semana apresentado pela Católica Lisbon Business & Economics.

“No geral, o efeito direto e indireto da contração dos setores altamente sensíveis coloca em risco entre 17% a 31% do emprego no setor privado da economia portuguesa”, indicam os responsáveis do estudo.

“Os setores que pararam ou quase pararam por razões de saúde pública (setores altamente sensíveis), representam cerca de 20% do emprego estruturado e da massa salarial do setor privado em Portugal que corresponde a 3,9%% do PIB [Produto Interno Bruto]”, lê-se no estudo enviado à Lusa.

Os autores analisaram dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), do Banco de Portugal (BdP), da Segurança Social, IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional) e DGERT (Direcção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho), entre outros, bem como as diversas medidas que foram sendo anunciadas pelo Governo.

“Estima-se que a paragem ou forte abrandamento destes setores nos últimos três meses tenha afetado cerca de 400 a 700 mil empregos de forma direta”, sendo que estes efeitos são amplificados por outros “indiretos noutros setores que se manifestam através das cadeias de produção, colocando em risco 130 e 245 mil empregos adicionais, respetivamente”, lê-se no documento

“Tratam-se, assim, de setores e empregos que, provavelmente, terão mais dificuldade em recuperar das perdas associadas à pandemia da covid-19”, acreditam os autores.

Em causa estão áreas como restaurantes e bares, turismo, alojamento, entretenimento e lazer, comércio em segmentos mais afetados, serviços pessoais e algumas indústrias transformadoras, segundo o estudo.

“O potencial ajustamento do emprego estende-se a trabalhadores de setores que não encerraram por razões de saúde pública, mas que sofreram uma contração da procura interna e externa (exportações)”, de acordo com a Católica.

Assim, as estimativas apontam para que “o choque de procura relatado pelas empresas no inquérito do INE/BdP nos últimos três meses tenha afetado 60% do total dos trabalhadores, quer de forma contemporânea, quer de forma desfasada ao longo dos próximos meses”, adiantam os autores.

Tendo com conta a previsão da trajetória da recuperação prevista do PIB até 2022, “as perdas de emprego associadas à crise do covid-19 poderão diminuir progressivamente, mas podem ainda ser significativas em 2021 e prolongar-se até 2022, dependendo do cenário considerado” para o crescimento económico, lê-se no documento.

“Mesmo sem trabalharem em setores altamente sensíveis, cerca de um milhão e meio de trabalhadores desenvolvem tarefas cujo desempenho pode ser afetado negativamente se realizado em regime de teletrabalho, penalizando a produtividade e a própria estabilidade desses empregos”, alertam os autores.

De acordo com a análise do estudo, perto de 67% dos trabalhadores “têm tarefas pouco propensas a serem realizadas com recurso ao regime de teletrabalho”, sendo que “22% do emprego estruturado requerem interação social intensa ou muito intensa, e 42% dos trabalhadores estão empregues em indústrias não essenciais”.

Além disso, 36% dos empregos e 34% da massa salarial são “suscetíveis de serem automatizados/substituídos por máquinas e robôs”, indica o relatório. 

“É provável que a pandemia da covid-19 aumente a desigualdade no rendimento oriundo do trabalho, que em Portugal já estava entre os valores mais elevados da Europa”, alertam os autores.

Entre as preocupações reveladas pelo estudo estão os efeitos nos mais novos.

“Os jovens até 24 anos têm quase o dobro da probabilidade de desempenhar funções em setores não essenciais que não podem ser realizadas em regime de teletrabalho do que os trabalhadores com idade superior a 40 anos, e uma probabilidade 1.6 vezes superior de trabalharem em setores altamente sensíveis”, revelou o estudo, recordando que contam também com “maior precariedade laboral”.

 

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