A Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) alertou hoje para o papel fundamental do rastreio na deteção precoce do cancro e pediu um reforço na coordenação entre os cuidados primários e os hospitais para o encaminhamento rápido de doentes.
Em comunicado, a SPP pede “protocolos claros de triagem” na coordenação dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) e a especialidade Pneumologia/Oncologia para um encaminhamento precoce, lembrando que isto poderia ajudar a reduzir os tempos de espera e as burocracias necessárias para o seguimento correto dos doentes.
Citadas no comunicado, Daniela Madama e Joana Catarata, da Comissão de Trabalho de Pneumologia Oncológica da SPP, sublinham que, no cancro do pulmão, é essencial detetar cedo e tratar o melhor e mais rápido possível, uma vez que as estratégias terapêuticas têm sofrido uma grande evolução.
Defendem ainda uma maior aposta na prevenção, “o primeiro passo, logo desde as camadas mais jovens”.
No comunicado emitido a propósito do Dia Mundial do Cancro do Pulmão, que se assinala a 01 de agosto, a SPP recorda os dados recentemente divulgados relativamente ao cancro do pulmão em Portugal, considerando que revelam um “cenário preocupante”: em 2023, foi responsável por 4.490 mortes, o valor mais elevado em 20 anos.
As especialistas destacam o diagnóstico tardio - com cerca de 70-75% dos casos a serem diagnosticados em estadio avançado ou metastático -, o tabagismo, a exposição a poluentes ambientais e ocupacionais, o envelhecimento da população e a falta de um programa de rastreio estruturado como os responsáveis pelo aumento da mortalidade por cancro do pulmão.
Para inverter esta tendência, defendem que seria fundamental a adoção de algumas medidas, como campanhas intensivas de prevenção e cessação tabágica e a concretização urgente e estruturada de rastreio por tomografia computorizada (TC) de baixa dose em grupos de risco, com vias rápidas e acessíveis de diagnóstico mais precoce.
Apontam ainda a necessidade de formação ativa de profissionais de saúde, principalmente dos CSP, para identificação precoce de sintomas, monitorização das principais exposições ambientais de risco e o investimento nos cuidados integrados, reforçando reabilitação, apoio psicológico e cuidados paliativos desde fases iniciais.
Na nota, as pneumologistas da SPP apontam ainda a importância de uma reforma de processos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), reduzindo burocracias e agilizando fluxos clínicos e administrativos essenciais para o diagnóstico precoce e a melhoria no acesso precoce a medicamentos inovadores em oncologia torácica.
Para isto – dizem - é crucial “otimizar os processos de avaliação e aprovação de medicamentos”, promover a concretização de programas de acesso precoce e garantir financiamento adequado.
Relativamente à importância de antecipar o diagnóstico do cancro do pulmão, as pneumologistas salientam que é preciso “combinar estratégias de rastreio eficientes com avanços tecnológicos emergentes”.
Lembram igualmente que o rastreio com tomografia computorizada de baixa dose (LDCT) em indivíduos de alto risco (fumadores ou ex fumadores há menos de 15 anos, com idades entre os 50 e 75 anos e carga tabágica de 20 maços/ano ou mais) reduz a mortalidade por cancro do pulmão até cerca de 25 %.
Uma vez que o tabagismo é o principal fator de risco de cancro do pulmão, as especialistas destacam a importância de prevenir de forma eficaz a iniciação tabágica, especialmente nos jovens, investindo na adoção conjunta de medidas educativas, integrando conteúdos obrigatórios nas escolas e promovendo ações educativas também fora da escola, junto das famílias.
O aumento dos preços do tabaco, a definição de mais zonas livres de fumo e a reativação, bem como o financiamento adequado, do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo (PNPCT) são ouras das medidas apontadas.