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Covid-19: Misericórdias querem recolher e divulgar dados semanalmente

LUSA
27-04-2020 21:57h

A União das Misericórdias Portuguesas (UMP) pediu aos provedores que enviem semanalmente dados dos lares que tutelam sobre a situação relativa à pandemia de covid-19, que pretende tornar públicos, para garantir mais apoios e equipamento e “construir o futuro”.

“Acreditem que estes dados vão ser decisivos para podermos construir o futuro. O futuro, como a UMP tem sustentado há vários anos, não pode ser igual. As comparticipações têm que ser justas, a sustentabilidade apoiada no rigor da gestão natural, o diálogo constante, a parceria total. Com os dados que obtivermos e com a colaboração de universidades e especialistas, iremos elaborar um conjunto de estudos para dar sustentabilidade e robustez às nossas propostas”, lê-se numa carta da UMP, assinada pelo seu presidente, Manuel Lemos, hoje enviada aos provedores.

Na missiva enviada aos provedores, Manuel Lemos defende que os dados “não são contra ninguém, nem para fazer polémica”, mas sim uma forma de as misericórdias se defenderem, com informação concreta, uma iniciativa que, acredita, “muitos responsáveis políticos dentro e fora do Governo apoiarão”.

“Só dessa forma conseguiremos ter acesso a mais testes, a mais EPI [equipamentos de proteção individual], a mais formação, a mais recursos comunitários para obras de adaptação, requalificação e equipamentos. Só dessa forma, teremos voz na opinião pública; só dessa forma, com clareza e transparência, nos colocaremos perante o Estado em verdadeira postura de cooperação, para que os responsáveis assumam na plenitude, a responsabilidade de cada um, como uma parte da responsabilidade de todos”, lê-se na carta.

A recolha de dados semanal deverá concretizar-se num preenchimento de um mapa por cada provedor, enviado por email ao secretariado nacional da UMP, para permitir a sua publicação semanal às sextas-feiras.

“Em cada sexta-feira, para o melhor e para o pior, tornaremos públicos esses dados devidamente agregados, bem como as conclusões e tendências que deles ressaltam”, defende Manuel Lemos.

O presidente da UMP deixa críticas à ênfase dada ao número de mortos em lares em “diárias conferências de imprensa”, passando uma imagem dos lares como “um local para ‘condenados à morte’”, sendo que os dados da UMP até dia 16 de abril apontavam para 63 óbitos num universo de mais de 35 mil idosos, o que coloca a taxa de mortalidade por covid-19 em cerca de 2%.

“Sem contar, e é preciso contar, com o apoio domiciliário que continuamos estoicamente a fazer”, sublinha Manuel Lemos, que refere ainda informações recolhidas diariamente junto dos provedores que apontam para uma letalidade igual à do ano anterior, e que há lares sem casos de covid-19 que declaram mais mortes do que aqueles que têm utentes infetados.

O presidente da UMP saúda ainda a decisão, concretizada num despacho da ministra da Saúde da passada sexta-feira, de colocar nos médicos dos centros de saúde “a responsabilidade diária de acompanhar os doentes de covid-19 que as instituições (provedor e direção técnica) aceitem que fiquem nos lares”.

Prevê-se que os centros de saúde indiquem formalmente horários, nome e contactos do médico e enfermeiros “encarregados da vigilância e da responsabilidade” nos lares, estando ainda garantidas “as condições de salvaguarda dos outros utentes, os EPI necessários para cuidar do doente”.

A carta reafirma a estrutura residencial dos lares, sem apoio médico legalmente imposto e com um enfermeiro para cada 40 utentes, tendo as instituições sido obrigadas a contratar profissionais de saúde no decurso da pandemia “sem qualquer comparticipação pública”, assumindo um caráter de unidade de saúde que sempre rejeitaram ter.

A UMP chegou a acusar os hospitais e o Serviço Nacional de Saúde de devolver doentes infetados aos lares sem que estes tivessem quaisquer condições para os tratar e nesta carta lembra que “só depois de muita luta, de muita argumentação, de muita evidência e de muita transferência para os Hospitais […] se admitiu instalar unidades especiais para doentes com covid-19, e fazer testes maciços nos lares”.

O programa de testes à covid-19 nos lares do país deverá ficar concluído dentro de três semanas, abrangendo 65 mil trabalhadores, mantendo-se depois em monitorização, disse hoje a ministra da Solidariedade e Segurança Social.

"Temos 65 mil trabalhadores nos lares, portanto dentro de três semanas vamos conseguir concluir o programa nos lares em todo o país", afirmou Ana Mendes Godinho aos jornalistas em Peniche.

Segundo a governante, até hoje deverão estar concluídos 20 mil testes.

O programa de testes nos lares, com a realização de 4.000 diários, conta atualmente com duas dezenas de parceiros, entre universidades, politécnicos, unidades de investigação e administrações regionais de saúde, disse a ministra.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou cerca de 207 mil mortos e infetou quase três milhões de pessoas em 193 países e territórios. 

Perto de 810 mil doentes foram considerados curados.

Em Portugal, morreram 928 pessoas das 24.027 confirmadas como infetadas, e há 1.357 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

Portugal cumpre o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de março, e o Governo já anunciou a proibição de deslocações entre concelhos no fim de semana prolongado de 01 a 03 de maio.

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