SAÚDE QUE SE VÊ

Maior estudo nacional vai medir o pulso à diabetes e risco cardiovascular

LUSA
25-11-2025 07:00h

O maior estudo nacional sobre a prevalência da diabetes e risco cardiovascular dos portugueses vai arrancar este ano, atualizando dados que têm mais de 10 anos para ajudar a definir políticas públicas eficazes.

O projeto, que surge num contexto em que as doenças crónicas são a principal causa de morte e de custos em saúde, é promovido e coordenado cientificamente pela Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD) e pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC).

O estudo PULSAR Portugal servirá para “medir o pulso” à realidade portuguesa atual, pois os limites considerados saudáveis relativos a vários indicadores são diferentes dos de há mais de 10 anos e a população portuguesa também mudou.

“O que era considerado colesterol normal naquela altura não é agora, as tensões arteriais normais na altura não o são agora e, portanto, era muito importante percebermos, principalmente com o envelhecimento populacional, que impacto é que isto está a ter”, explicou à Lusa a presidente da SPC, Creatina Gavina.

Por outro lado, na diabetes, com o estilo de vida, as coisas também mudaram : “O risco que nós agora chamamos cardiometabólico, que está muito ligado à obesidade e ao excesso de peso, na realidade tem feito com que haja mais diabetes, mais pessoas pré-diabéticas e mais risco cardiovascular”, disse a especialista.

Cristina Gavina salientou a importância de caracterizar a atualidade para definir estratégias eficazes de intervenção.

“Há uma necessidade realmente de caracterização, se queremos saber em que áreas devemos investir, por um lado, para fazer aquilo que nós chamamos de prevenção primordial, que é as pessoas não virem sequer a ter os fatores de risco”, frisou.

Atualizar os dados é essencial também para adotar estilos de vida saudáveis, nomeadamente, para intervir nas escolas para garantir que os futuros adultos sejam mais saudáveis, mas também para que seja possível diagnosticar precocemente os fatores de risco e controlá-los, para evitar a doença.

O estudo vai, porta-a-porta, em Portugal continental e ilhas, convidar aleatoriamente cerca de 25 mil indivíduos acima dos 18 anos para avaliar qual é a prevalência destes fatores de risco, com questionários, avaliação biométrica e análises.

“Vamos ver todos os fatores de risco que hoje em dia até têm estado a mudar, pois há novos fatores de risco emergentes. Por exemplo, no caso das mulheres, hoje em dia sabemos que a história obstétrica é extremamente importante”, exemplificou a presidente da SPC, acrescentando: “hoje temos de questionar sobre toda a história, e não apenas os fatores tradicionais, como o tabagismo, a hipertensão ou a diabetes”.

Cristina Gavina disse que a expectativa, infelizmente, é "encontrar uma carga de fatores de risco muito importante", mas sublinhou que este trabalho será "uma oportunidade única" para poder modelar o risco nos adultos jovens e vir a alterar o curso das doenças no futuro.

Também em declarações à Lusa, o presidente da SPD, João Raposo, lembrou que hoje aquilo que se conhece da diabetes aponta para uma prevalência de 14,2% da população adulta (mais de um milhão) e acrescentou que "gostava de não encontrar grandes diferenças na prevalência total”.

Recordou que, na altura do último estudo, cerca de 40% do total das pessoas estava por diagnosticar, um valor que o especialista queria que tivesse reduzido ao longo dos anos.

“Gostávamos que em Portugal houvesse agora menos gente por diagnosticar, atendendo a que têm sido feitas campanhas para conhecer melhor a diabetes e a importância de saber o diagnóstico da doença (…). Se essas medidas tiveram consequência, este estudo irá demonstrar que temos menos pessoas por diagnosticar”, disse João Raposo.

O projeto-piloto deste estudo arrancará ainda em dezembro e os primeiros dados poderão ser conhecidos antes do final de 2026.

A apresentação do projeto, que conta com a parceria da IQVIA e do grupo SYNLAB, decorre hoje, na sede da SPC, em Lisboa.

MAIS NOTÍCIAS