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Greenpeace avisa que abandono rural agrava incêndios em Portugal e Espanha

LUSA
11-11-2025 08:56h

A Greenpeace alertou que o abandono rural, a falta de gestão florestal e as metas europeias de descarbonização insuficientes estão a agravar os incêndios em Portugal e Espanha, que enfrentam cada vez mais os efeitos extremos da crise climática.

“O mais importante é a gestão florestal e a gestão do território. O que estamos a viver nestes dois países é o abandono rural, o abandono do campo e das pessoas que vivem nele”, disse à Lusa a diretora executiva da Greenpeace para Espanha e Portugal durante a 30.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP30), que começou na segunda-feira na cidade amazónica de Belém.

Eva Saldaña chamou atenção para a necessidade de investir no desenvolvimento rural, dotar as pessoas que vivem no território de serviços e recursos, "para que estejam mais preparadas para prevenir os incêndios e depois atuar quando eles acontecem”.

Os verdadeiros guardiões das florestas são “as pessoas que vivem no território, as comunidades locais, as pessoas ligadas à agricultura e à pecuária”, notou.

Da Amazónia à Península Ibérica, a mensagem da Greenpeace é clara: quem vive no território é quem protege a floresta.

“E, para isso, é preciso dotá-las de recursos, financiamento e, claro, garantir serviços para que possa haver mais gente a viver nesses territórios”, sublinhou.

A responsável da Greenpeace considera que Portugal e Espanha não estão a acompanhar o ritmo exigido pela comunidade científica e acusa a Europa de falta de ambição nas metas de descarbonização e de atraso na ação climática.

“Portugal e Espanha não estão a ir ao ritmo que a comunidade científica internacional nos indica. A Europa também não o está a fazer e está presa num grande imobilismo”, denunciou, considerando que os dois países “podem fazer muito mais, e é importante que a ambição esteja no centro da discussão”.

Eva Saldaña recordou que a União Europeia definiu uma meta de 90% de redução das emissões face a 1990 até 2035, “quando já deveria estar muito próximos dos 100%”.

Portugal continental foi afetado este verão por incêndios rurais e florestais de grande dimensão nas regiões Norte e Centro.

Os fogos provocaram quatro mortos, entre eles um bombeiro, e vários feridos, e destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e floresta.

O ano de 2025 é o terceiro pior de sempre em termos de área ardida até 31 de agosto, com 254 mil hectares, de acordo com o Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais.

Em Espanha, os incêndios causaram quatro mortos e queimaram mais de 350 mil hectares.

As emissões de carbono na Europa, ligadas aos incêndios florestais deste verão, sobretudo em Portugal e Espanha, são já as mais elevadas em 23 anos de registos, indicou a 18 de setembro o serviço europeu Copernicus, de observação da Terra.

Desde o início do ano, os fogos florestais na Europa libertaram 12,9 megatoneladas de carbono, sendo que os recordes anteriores pertenciam a 2003 e 2017, com 11,4 megatoneladas de carbono emitidas para a atmosfera.

Por fim, Eva Saldaña sinalizou que para a COP30, que decorre até pelo menos 21 de novembro, a Greenpeace leva três bandeiras: Um plano global para proteger as florestas entre 2025 e 2030; o encerramento da lacuna de ambição na redução de emissões e abandono dos combustíveis fósseis, com transições nos setores energético e agroalimentar, e o financiamento climático robusto para mitigação, adaptação e compensação das perdas e danos nos países do Sul Global.

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