SAÚDE QUE SE VÊ

Raquel Castro estreia "Ansioliticamente falando" a 01 de novembro no CCB

LUSA
28-10-2025 18:26h

A artista Raquel Castro estreia, no dia 01 de novembro, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, a sua nova criação, “Ansioliticamente falando”, com excertos de “A gaivota”, de Tchekhov.

Em declarações à Lusa, Raquel Castro disse que o espetáculo que dirige tem como “pontos de partida iniciais questões relacionadas com a ansiedade”, o que acabou por fazer com que encontrasse um título para a peça que tinha “a palavra ansiolítica no meio" e “que exprimisse de alguma forma a ideia do que é falar” sobre a ansiedade.

O espetáculo tem como base uma “brincadeira” na qual uma encenadora, Raquel Castro, está a ensaiar “A gaivota”, de Tchekhov, “com um grupo de atores em que todos têm problemas de ansiedade”.

À medida que o espetáculo vai decorrendo, o público vai-se “apercebendo dessa história e dessas narrativas individuais” que só são partilhadas “entre alguns membros do grupo”.

“Muitas vezes é o que acontece quando existem estes problemas de saúde mental”, frisou, acrescentando, todavia, que nos dias de hoje o tema é bastante falado.

Apesar “de se falar muito sobre isso, hoje em dia há muito pudor, e muitos tabus e muito estigma ainda em relação ao assunto e no fundo a ansiedade acaba por servir aqui como uma espécie de obstáculo ao espetáculo”.

“Ansioliticamnete falando” desenvolve-se à volta de uma peça em processo de ensaios, com excertos de “A gaivota”, de Tchekhov, na qual a ansiedade acaba por “provocar uma espécie de explosão no grupo”, quando os seus membros de aprecebem de que estão todos a passar pelo mesmo.

Para fugir das criações autobiográficas e autoficcionadas que pautam o trabalho de Raquel Castro, a criadora socorreu-se de excertos do clássico do médico e dramaturgo russo, que acabam por “reverberar também nas experiências da encenadora da peça”, indicou, e na forma como a encenadora está a viver o processo de criação.

O texto de Tchekhov é marcado por um “mal-estar existencial associado às personagens”, devido às “angústias, problemáticas” com que se confrontam.

A história de “A gaivota” acaba assim "por minar também um bocadinho a história da encenadora”, na medida em que as palavras de Tchekhov “ecoam nela” fazendo com que se “aperceba de que apesar de estar a tentar fazer um espetáculo de 'repertório' e de tradição do teatro”, “não consegue fugir à sua tendência maior: o teatro auto-ficcionado ou autobiográfico”.

Por isso, e por mais que tente ver-se livre de si própria, Raquel Castro "tem a sua vida em toda a parte, até em Tchekhov”, afirmou.

Questionada pela Lusa sobre com qual personagem de “A gaivota” se identificava mais, a atriz e encenadora admitiu ser com o famoso escritor Trigorin, por ser quem mais aborda “as agruras da criação artística, as dificuldades de criar e de desenvolver trabalho criativo”, concluiu.

Em cena no Pequeno Auditório do CCB, a peça “Ansioliticamente falando” pode ser vista até 09 de novembro, com récitas de terça a sexta-feira, às 20:00, ao sábado, às 19:00, e, ao domingo, às 17:00.

A última sessão tem interpretação em Língua Gestual Portuguesa.

Com excertos de “A gaivota”, da tradução de António Pescada, “Ansioliticamente falando” é interpretada por Paulo Pinto, Pedro Baptista, Joana Bernardo, Sara Inês Gigante, que também apoiou a criação, e Raquel Castro.

O apoio à dramaturgia é de Pedro Gil, enquanto na assistência de encenação está Pedro Russo.

O espetáculo tem cenografia de Joana Subtil, som de Miguel Caldeira, e Miguel Sobrado Curado como baterista.

MAIS NOTÍCIAS