A Associação Moçambicana Sem Fendas Labiais (Amofel) alertou hoje que a fenda labial é um problema de saúde pública grave e transversal em Moçambique, apontando, contudo, para a falta de dados estatísticos sobre a malformação no país.
"Há muitos nascidos [com fendas labiais], mas infelizmente, como tantas outras doenças, nós não temos informação oficial do Ministério da Saúde, porque não há estudos nessa perspetiva", disse à Lusa Jerónimo Brilão, fundador da Amofel, organização não-governamental (ONG) moçambicana que apoia crianças com fenda labial ou palatina.
Segundo o responsável, Moçambique ainda recorre aos dados da Organização Mundial da Saúde, que estima que, em todo o mundo, em cada 650 crianças que nascem, pelo menos uma nasce com a malformação.
"Nós fizemos uma matemática básica em que analisamos o 2019, em que havia cerca de 1,9 milhões de nados vivos [no país] e, assumindo que uma em cada 650 [crianças] tinha fenda, vimos que havia muitos nascidos que poderiam ter fenda naquele ano", explicou.
Para a Amofel, a fenda labial é um "problema de saúde pública grave e muito transversal" no país, porque, segundo conta, dificulta, entre outros, a alimentação nos primeiros dias dos recém-nascidos: "e se não se alimentam, corem riscos de morte".
"Em famílias menos informadas, há interpretações que se geram do nascimento de uma criança com fenda labial, acusações, o casal começa a desconfiar-se", assinalou, acrescentando que maior parte das pessoas, principalmente nas zonas rurais do país, não levam estas crianças para a escola, porque não são aceites pelas outras crianças.
Brilão assinalou ainda que desde setembro do ano passado a Amofel submeteu cerca de 136 pessoas a cirurgia para a fenda labial, na sua maioria crianças, em quatro campanhas.
"Realizamos a nossa primeira campanha no ano passado, em 2024, em setembro, que foi na província da Zambézia, no distrito de Mocuba. Nessa que foi a nossa primeira campanha, operamos 56 pacientes em uma semana. E foi um número de acordo, pelo menos aqui em Moçambique, para o tipo de cirurgias feitas por uma equipe totalmente de moçambicanos", explicou.
A segunda e a terceira campanha aconteceram nos meses de junho e agosto deste ano, nas províncias de Inhambane e Tete, no sul e centro do país, respetivamente, quando foram operadas 40 pessoas.
"Temos cerca de 40 pacientes disponíveis e esperamos operar todos eles", acrescentou, sobre a perspetiva para esta quarta campanha da ONG.