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África do Sul saúda plano dos EUA para manter combate ao VIH no país até março

Lusa
16-10-2025 15:40h

A África do Sul saudou hoje um plano norte-americano transitório, no valor de 99 milhões de euros, para financiar, até março, programas de tratamento e prevenção do VIH, considerando-o um sinal de boas relações bilaterais.

O Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidas da América (EUA) para o Alívio da SIDA (PEPFAR, na sigla em inglês) salvou mais de 25 milhões de vidas ao longo de duas décadas, sobretudo em África, sendo que a África do Sul é o país com o maior número de pessoas a viver com VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) no mundo.

Em janeiro, o Presidente norte-americano, Donald Trump, emitiu uma ordem executiva para suspender toda a ajuda externa aos programas de saúde da África do Sul, incluindo o PEPFAR.

Embora tenha sido concedida uma isenção temporária de 90 dias, Washington começou a encerrar subvenções no final de fevereiro de 2025, congelando ou interrompendo a maioria dos financiamentos — o que provocou despedimentos e perturbações nos serviços.

Os EUA contribuíam anteriormente com mais de 400 milhões de dólares (cerca de 343 milhões de euros) anuais para programas sul-africanos de combate ao VIH e para Organizações Não-Governamentais (ONG), representando cerca de 17% do financiamento total, segundo dados do Ministério da Saúde sul-africano.

Com o congelamento do apoio, mais de 8.000 profissionais de saúde foram despedidos e 12 clínicas especializadas em VIH — geridas por ONG e financiadas pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês) — foram encerradas.

A ministra da Presidência, Khumbudzo Ntshavheni, afirmou hoje que o Governo "acolhe favoravelmente" a aprovação do PEPFAR Bridge Plan pelos EUA, no valor de 115 milhões de dólares (cerca de 99 milhões de euros).

Ntshavheni explicou que um dos principais problemas quando Trump suspendeu o financiamento foi o curto prazo dado aos países para ajustarem os seus orçamentos, e que o novo plano, provisório, "procura corrigir essa situação".

"Este é um sinal das boas relações bilaterais entre a África do Sul e os Estados Unidos — quando há divergências, dialogamos e encontramos soluções amistosas", acrescentou.

Apesar do tom positivo, as relações entre os dois países têm sido tensas.

Trump acusou o Governo sul-africano, de maioria negra, de estar a "promover um genocídio" contra a minoria branca 'afrikaner' (descendentes de colonos europeus) e até acelerou a concessão de asilo a cidadãos dessa comunidade.

Além de suspender a ajuda financeira e impor tarifas de 30% sobre exportações sul-africanas, Trump criticou duramente a posição do país no conflito Israel-Hamas.

Em 2023, a África do Sul apresentou uma queixa no Tribunal Internacional de Justiça acusando Israel de genocídio contra os palestinianos em Gaza.

O embaixador sul-africano Ebrahim Rasool foi expulso dos EUA após críticas a Trump, que já deu a entender que poderá não participar na cimeira do G20, prevista para novembro em Joanesburgo.

O ministro da Saúde sul-africano, Aaron Motsoaledi, afirmou esta semana, durante uma mesa-redonda nacional, que uma delegação norte-americana lhe comunicou a intenção de Washington "reformular o PEPFAR", concedendo a alguns países períodos de transição de até cinco anos antes de cessar totalmente o programa.

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