A representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Cabo Verde defendeu hoje um "projeto de vigilância" para prevenir a propagação da malária, após mais um caso registado, totalizando 31 desde janeiro, ameaçando o certificado de país livre da doença.
"É preciso um projeto para um seguimento de vigilância [da malária]. Quando surgem casos, é importante identificar rapidamente onde estão os focos e interromper a transmissão. É também essencial uma luta multissetorial", afirmou Ann Lindstrand, após um encontro com o primeiro-ministro, na Praia, no âmbito de um ciclo de audiências com entidades nacionais e internacionais que o chefe de Governo está a promover para analisar a situação sanitária no país.
A responsável da OMS voltou a alertar que Cabo Verde "está em perigo" de perder a certificação de país livre de malária, obtida em 2024, caso se registem pelo menos três casos de transmissão local, durante três anos consecutivos" - e em que 2026 pode ser esse terceiro ano.
"É uma doença em que uma criança pode brincar de manhã e estar morta à noite. A malária espalha-se muito rapidamente", acrescentou, lembrando que a imunidade da população é baixa devido ao tempo em que a doença não circulou no país.
"É uma luta que exige ação imediata: limpeza, eliminação de águas estagnadas e pulverização das casas onde existam focos", afirmou.
Ann Lindstrand sublinhou ainda que Cabo Verde é um país aberto, com muitos turistas, o que significa que haverá sempre casos importados.
Sobre a dengue, referiu que "a situação está calma", mas que é necessário manter a vigilância.
"Os especialistas da OMS visitaram recentemente a ilha de Boa Vista e São Vicente e identificaram os mosquitos que transmitem a doença. Nesta época de chuvas, é preciso redobrar a vigilância", afirmou.
O ministro da Saúde, Jorge Figueiredo, disse que o Governo está a trabalhar para não registar mais casos nos locais mais complicados, como Fonton e Kobon, na capital, que podem contribuir para a perda do certificado de eliminação.
Desde janeiro, registaram-se 30 casos, em que doentes de outros países deram origem a algumas infeções locais em bairros específicos e em agosto surgiu mais um, totalizando 31.
"Houve um caso de Santa Catarina que se deslocou para Boa Vista. Foi imediatamente identificado e investigado, e desde então não surgiram novos casos", afirmou o ministro.
O governante considerou ainda que a cidade da Praia "precisa de refazer o seu sistema de serviços prestados", como na recolha do lixo, que pode "proporcionar um mau saneamento".
"A acumulação de pneus, de garrafas, de objetos que podem depositar água, são extremamente complicados porque pode diversificar os focos onde os mosquitos podem eclodir", referiu.
As estações da chuva, em África, são as mais propícias à reprodução de mosquitos, portadores do parasita da malária – no caso de Cabo Verde, a precipitação acontece entre julho e outubro.
O Governo declarou situação de contingência em julho durante três meses, para permitir o acesso a verbas do "fundo de emergência" e responder rapidamente à situação.
O plano de prevenção é contínuo, com agentes de luta vetorial a fazer pulverizações intradomiciliárias e a identificar locais favoráveis à propagação de mosquitos.