SAÚDE QUE SE VÊ

Criados nanomotores que usam glicose para administrar medicamentos diretamente em tumores

LUSA
04-11-2025 00:51h

Um equipa de cientistas liderou o desenvolvimento de nanopartículas capazes de autopropulsão (nanomotores) que utilizam a glicose presente no ambiente tumoral como combustível, permitindo assim a administração de fármacos no interior dos tumores de forma muito mais eficaz.

O estudo, que foi desenvolvido por uma equipa da Universidade Politécnica de Valência (UPV), pertencente ao Instituto Interuniversitário de Reconhecimento Molecular e Desenvolvimento Tecnológico (IDM), foi testado em modelos animais e amostras de doentes, e publicado na revista 'ACS Nano', noticiou na segunda-feira a agência Europa Press.

A investigação contou ainda com a participação do Instituto de Investigação em Saúde La Fe (IIS La Fe), da área de Bioengenharia, Biomateriais e Nanomedicina do CIBER (CIBER-BBN), da área de Cancro do CIBER (CIBERONC) e do Instituto de Investigação em Saúde INCLIVA, em colaboração com o Centro de Investigação Príncipe Felipe (CIPF).

Segundo Ramón Martínez Máñez, diretor do Instituto IDM da Universidade Politécnica de Valência e investigador principal do CIBER-BBN, nos tumores sólidos, os fármacos quimioterápicos penetram pouco nas camadas internas, reduzindo a sua eficácia e permitindo que algumas células cancerígenas sobrevivam.

Os nanomotores desenvolvidos pela equipa de investigação ajudam a ultrapassar este obstáculo.

"Os resultados obtidos em organoides de cancro da mama derivados de doentes demonstram que esta tecnologia tem um enorme potencial para aplicação em terapias personalizadas", sublinharam Iris Garrido e Juan Miguel Cejalvo, do Instituto de Investigação em Saúde INCLIVA.

A equipa demonstrou a sua eficácia na destruição de células tumorais em culturas celulares, esferóides, organoides derivados de doentes e num modelo murino.

Neste último, o tratamento reduziu significativamente o tamanho do tumor e aumentou a quantidade de fármaco que atingiu o núcleo do tumor.

"Os nanomotores não só utilizam a glicose para aumentar o movimento, como, ao consumi-la, privam as células tumorais de energia. Além disso, os nanomotores concebidos geram oxigénio, o que ajuda a reduzir a hipoxia, um problema comum que limita a eficácia de muitos tratamentos, explicou Paula Díez, do Instituto de Investigação em Saúde La Fe (IIS La Fe).

"Os nanomotores  produzem também espécies reativas de oxigénio, que reforçam os danos nas células malignas", acrescentou.

Para Alba García-Fernández, do centro de investigação CIBER-BBN, o aspeto mais inovador é "o design do nanomotor, que emprega uma nanopartícula com duas faces (sílica e platina) e utiliza a própria glicose do tumor como combustível para ativar o movimento".

"Não só conseguimos uma penetração muito mais profunda dos nanomotores dentro do tumor, como também garantimos que estes libertam o fármaco no momento e local exatos", vincou ainda.

MAIS NOTÍCIAS