O exército israelita bombardeou hoje intensamente a cidade de Gaza, o que provocou a fuga de milhares de pessoas e deixou os hospitais à beira do colapso, segundo a ONU.
Com apoio dos Estados Unidos, Israel anunciou na terça-feira o início de uma campanha terrestre e aérea em Gaza para destruir o grupo extremista palestiniano Hamas.
O ataque de 07 de outubro de 2023 do Hamas em Israel desencadeou a guerra em curso, que causou dezenas de milhares de mortos, devastou o enclave palestiniano e gerou uma crise humanitária.
Os cerca de dois milhões de palestinianos no território sitiado por Israel já foram deslocados várias vezes desde então.
“Há disparos de artilharia, ataques aéreos, tiros de drones e quadricópteros. Os bombardeamentos nunca param”, relatou Aya Ahmad, 32 anos, residente com 13 familiares no bairro de Nasser, a oeste da cidade de Gaza.
Unidades de saúde do território comunicaram que pelo menos 12 pessoas, incluindo três crianças, morreram nas últimas horas em ataques israelitas, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
A estrada costeira que atravessa Gaza ficou congestionada com milhares de pessoas a fugir para o sul, a pé, de carro ou em carroças puxadas por burros, com os pertences empilhados à pressa, relataram jornalistas da AFP no local.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que “a incursão militar e as ordens de evacuação no norte de Gaza provocam novas vagas de deslocamentos”.
A situação forçou “famílias traumatizadas a concentrar-se numa área cada vez mais reduzida, incompatível com a dignidade humana”, denunciou.
“O mundo não compreende o que se passa. Eles [Israel] querem que fujamos para o sul, mas onde vamos viver? Não há tendas, não há transporte, não há dinheiro”, disse Ahmad.
De acordo com residentes, os custos de transporte para o sul dispararam, chegando a ultrapassar os mil dólares (846 euros, ao câmbio atual).
A ONU calculava no fim de agosto que cerca de um milhão de pessoas viviam na cidade de Gaza e arredores, enquanto o exército israelita disse que “mais de 350 mil” já fugiram da zona.
“A situação nos hospitais, já sobrecarregados, está no limite do colapso, com a violência a impedir o acesso e a entrega de suprimentos vitais”, alertou o diretor da OMS.
O exército de Israel disse na quarta-feira que atingiu “um depósito de armas do Hamas destinado a atacar tropas israelitas” e que bombardeou mais de 150 alvos em Gaza desde o início da ofensiva terrestre.
A operação foi condenada internacionalmente e também em Israel, onde cresce a preocupação com os reféns ainda retidos em Gaza.
A ONU declarou que há fome na Faixa de Gaza, afirmação rejeitada por Israel.
Uma comissão de inquérito mandatada pela ONU concluiu na terça-feira que Israel comete genocídio contra os palestinianos em Gaza, acusação igualmente negada pelo governo israelita.
“A situação é indescritível, recitamos a ‘chahada’ [profissão de fé muçulmana] a cada explosão”, contou Ahmed AbouWafa, 46 anos, que vive com sete filhos numa tenda no oeste da cidade de Gaza.
O ataque de 07 de outubro do Hamas deixou cerca de 1.200 mortos em Israel, na maioria civis.
Das 251 pessoas sequestradas nesse dia, 47 continuam em Gaza, das quais 25 foram declaradas mortas pelo exército israelita.
Os bombardeamentos e ataques israelitas já causaram 65.141 mortos em Gaza, em grande parte civis, segundo o ministério da Saúde do território, sob autoridade do Hamas, cujos dados são considerados fiáveis pela ONU.