Dois projetos-piloto de rastreio do cancro do cancro do pulmão deverão arrancar até ao início de 2026 na Unidade Local de Saúde (ULS) de Santo António, no Porto, e no concelho de Cascais, anunciaram hoje fontes oficiais à Lusa.
“Neste momento, estamos em condições de dar resposta ao início deste projeto-piloto de rastreio do cancro do pulmão”, afirmou o diretor clínico dos cuidados de saúde primários da ULS de Saúde de Santo António, Rui Medon, no Dia Mundial do Cancro do Pulmão.
O projeto encontra-se na fase de aquisição e de instalação dos equipamentos que deverá estar concluído até ao final do ano, disse Rui Medon, adiantando que será criada uma unidade de imagiologia no Hospital Magalhães Lemos, onde decorrerão os rastreios.
Ao mesmo tempo, será atualizada a formação dos técnicos de diagnóstico e terapêutica, dos médicos e enfermeiros de família, que terão que dar “uma atenção redobrada” à intervenção que já fazem na identificação da população fumadora, e dos seus hábitos tabágicos, e na ajuda a deixar de fumar.
Haverá também um curto período de testes e afinação de “toda a máquina” e, revelou, “em princípio, durante o primeiro trimestre de 2026, iniciaremos o rastreio do cancro do pulmão”.
A população-alvo do rastreio tem entre os 55 e 74 anos com “critérios de alto risco”, designadamente “hábitos tabágicos cumulativos significativos” ou que tenham deixado de fumar nos últimos 10 anos.
Segundo o responsável, esta população está identificada nos sistemas informáticos nas unidades de saúde familiares, através de registos feito por médicos e enfermeiros de família.
Relativamente ao número de pessoas abrangidas, disse que os números ainda são “muito preliminares”, mas indicou que, na ULS Santo António, existem cerca de 93 mil pessoas nesta faixa etária, das quais se estima que 20% sejam fumadoras.
“Contamos que o número a rastrear nunca será superior a 18 mil pessoas”, referiu.
O projeto-piloto terá a duração mínima de um ano, período durante o qual serão realizadas avaliações intercalares e avaliação anual, baseada em indicadores operacionais e de qualidade já definidos, darão “muita informação” para fazer “alguns ajustes” que possam ser necessários.
Em Cascais, o rastreio será promovido pela Câmara Municipal de Cascais e deverá arrancar ainda este ano, anunciou à Lusa o seu presidente, Carlos Carreiras.
O autarca estimou que os primeiros rastreios avancem no final deste ano e serão realizados numa unidade móvel que vai percorrer “cada local do concelho”, num investimento em equipamentos a rondar os dois milhões de euros.
“Nós aprendemos com a covid-19, quando foi dos testes, que temos que nos aproximar da população e, de preferência, ao nível do bairro para ter uma maior adesão por parte dos cidadãos”, salientou, recordando que a autarquia já realiza outros rastreios como ao cancro da mama, juntamente com a Liga Contra o Cancro, ao VIH, Hepatite C e sífilis
Carlos Carreiras referiu que, apesar de a adesão ao rastreio do cancro da mama ser abaixo dos 15%, espera alcançar os 50% de adesão no rastreio do cancro do pulmão.
Cascais tem cerca de 54 mil habitantes entre os 55 e os 74 anos, sendo que cerca de 9.000 são considerados fumadores de risco. A expectativa é abranger cerca de 4.500 pessoas por ano no rastreio desenvolvido em conjunto com o Ministério da Saúde.
“O sucesso deste projeto vai depender muito da adesão dos próprios cidadãos”, vincou, reforçando a sua importância detetar a doença precocemente.
Rui Maron acrescentou que o rastreio do cancro do pulmão “é uma prioridade”, recordando que, em novembro de 2022, o Conselho Europeu recomendou aos Estados-membros a implementação de projetos-pilotos de rastreio nesta área.
Elucidou que é um “cancro muito silencioso”, diagnosticado tardiamente, com elevada mortalidade.
“Se olharmos, por exemplo, para a vizinha Espanha, a mortalidade por cancro do pulmão, nas mulheres, já ultrapassou a do cancro da mama. Isto é preocupante”, alertou.
Com a introdução do rastreio, será possível detetar em fases “muito mais precoces” e “uma maior probabilidade de tratamento e cura”.
Medon destacou também a importância da prevenção, incentivando a população a evitar o tabaco e, em caso de consumo, procurar ajuda médica para cessar o hábito. Lembrou que já existem tratamentos medicamentosos comparticipados que podem apoiar esse processo.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, só em 2023, esta doença causou 4.490 mortes em Portugal, o valor mais elevado em 20 anos, o que causa em média 12 mortes por dia.