As fábricas moçambicanas de medicamentos e outros produtos médicos produzem anualmente cerca de mil milhões de comprimidos, segundo um estudo da International Finance Corporation (IFC) do Banco Mundial, realizado no país.
Os dados foram avançados na conferência internacional sobre produção local de medicamentos e produtos de saúde, que termina hoje, no âmbito da Expo Internacional de Saúde de Moçambique (MIH Expo-24), organizada pela Autoridade Nacional Reguladora de Medicamentos (Anarme).
Esta quantidade de fármacos é produzida pela INFARMA - Indústria Farmacêutica e pela Fábrica Nacional de Medicamentos (FNM), instaladas no país, empregando, segundo os dados do IFC, cerca de 300 pessoas.
“Embora a indústria farmacêutica moçambicana ainda esteja em fase inicial, o país já estabeleceu capacidades de produção para diversos produtos farmacêuticos, incluindo sólidos orais, gases medicinais, dispositivos médicos, desinfetantes e antisséticos”, refere-se no estudo realizado em 2024.
O mesmo estudo indica que o país tem potencial para expandir a sua capacidade de produção farmacêutica local, incluindo a produção de vacinas e produtos auxiliares como embalagens e excipientes.
“Para apoiar o crescimento da indústria local e reduzir a dependência de importações, é essencial impulsionar a procura interna por produtos produzidos localmente e criar oportunidades de exportação, aproveitando os esforços de integração regional em curso”, aconselha o IFC.
Apesar de admitir que o país tem potencial para avançar com a produção local de fármacos em larga escala, o financiamento a estas iniciativas é apontado como “um problema grave”.
“Há falta de mão-de-obra qualificada. Empresas de manufatura locais relatam que utilizam mão-de-obra de fora para treinar mão-de-obra local”, indica-se no documento, que elenca também como desafio da indústria local de medicamentos a instabilidade no fornecimento de energia e a má qualidade da água para a produção farmacêutica, o que aumenta os custos de produção.
Outro alerta levantado pelo IFC é a facilidade na circulação de produtos falsificados no mercado farmacêutico de Moçambique.
Segundo o estudo, a procura por produtos de saúde em Moçambique vai crescer, com gastos globais a atingir 1,3 mil milhões de dólares (1,1 mil milhões de euros) em 2038, face ao crescimento populacional e avanços na indústria farmacêutica local.
O IFC recomenda o fortalecimento dos laboratórios de controlo de qualidade para realizar testes a vários produtos e assegurar a circulação de fármacos com qualidade recomendável no país.
No estudo são recomendadas "ações e reformas para fortalecer a regulamentação do mercado, promover o desenvolvimento de infraestrutura industrial de qualidade para produtos farmacêuticos, investir em boas redes de transporte e logística, desenvolver incentivos específicos para a produção farmacêutica local, fornecer linhas de crédito para apoiar as operações e educar e atrair talentos humanos para a indústria”.
O Governo moçambicano pretende reduzir 30% da dependência externa de medicamentos até 2030, alocando anualmente 1% do orçamento destinado a saúde para promover a investigação científica e incentivar a produção local de fármacos.
Na antecipação do evento, o Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, afirmou que o Governo está a trabalhar com investidores e investigadores, nacionais e estrangeiros, para garantir a produção local de medicamentos, reduzindo a dependência externa.
A MIH Expo-24, segundo os promotores, “é uma plataforma abrangente para apresentar um esforço internacional unificado para fortalecer os sistemas de saúde contra os riscos relacionados com o clima, ao mesmo tempo que promove iniciativas que impulsionam o setor para um impacto ambiental líquido zero”.
O evento, que termina hoje, reúne em Maputo as principais partes interessadas internacionais do setor, decisores políticos, profissionais e inovadores com o objetivo de facilitar o intercâmbio de conhecimentos, partilhar melhores práticas e mostrar a inovação de ponta na região.