O Governo moçambicano pretende reduzir 30% da dependência externa de medicamentos até 2030, alocando anualmente 1% do orçamento destinado a saúde para promover a investigação científica e incentivar a produção local de fármacos, foi hoje anunciado.
“De modo a garantir a produção local, o nosso país, a médio prazo, portanto, até 2030, pretendemos continuar a trabalhar para garantir que possamos reduzir em pelo menos 30% a dependência externa de medicamentos. Neste momento temos uma dependência de 90% e queremos reduzir em 30% até 2030”, disse o secretário permanente do Ministério da Saúde (Misau), Ivan Manhiça.
O responsável falava em Maputo durante a conferência internacional sobre produção local de medicamentos e produtos de saúde, que termina hoje, no âmbito da Expo Internacional de Saúde de Moçambique (MIH Expo-24), organizada pela Autoridade Nacional Reguladora de Medicamentos (Anarme).
O responsável admitiu que a ambição do Governo de Moçambique de reduzir a dependência externa em 30% vai “exigir financiamento adicional” face à exiguidade de recursos, incluindo os que são alocados anualmente para o setor da saúde, dentro do Plano Económico e Social e Orçamento do Estado (PESOE).
“Vamos alocar pelo menos 1% do nosso orçamento no setor da saúde para a investigação científica de modo a que possamos trazer soluções locais”, que incluem avançar com a busca de linhas de financiamento, parcerias com o setor privado, incluindo o aprofundamento da ligação com diferentes autoridades reguladores de medicamentos na busca de experiências na gestão e controlo de fármacos, conforme esclareceu Ivan Manhiça.
“É nossa expectativa que com essas medidas possamos, a médio prazo, ter mais autonomia farmacêutica no nosso país, uma significativa redução em termos de dependência externa, que possamos aumentar a nossa capacidade para absorver a produção local, gerando mais empregos e qualificando a nossa mão-de-obra e expandir a nossa infraestrutura”, disse Ivan Manhiça.
Moçambique quer avançar com um plano para assegurar a sustentabilidade da produção local de medicamentos e travar a rotura de stock sobretudo em momentos de crise e a produzir para exportar para mercados regionais.
“Hoje, cerca de 90% de todos os medicamentos e produtos de saúde existentes no nosso país são importados, é preciso reverter este cenário e é por isso que nós vemos essa questão de importar maior número de medicamentos como um risco”, admitiu o secretário permanente do Misau.
O Presidente moçambicano já tinha avançado que 90% dos produtos médicos consumidos em África são produzidos noutros continentes, pedindo ações concretas para acabar com esta dependência.
“Esta dependência extrema coloca os nossos sistemas de saúde numa posição vulnerável, expostos à flutuações do mercado internacional, atrasos logísticos, crises geopolíticas e restrições orçamentais”, alertou.
Na antecipação do evento, o Presidente de Moçambique tinha adiantado que o Governo moçambicano está a trabalhar com investidores e investigadores, nacionais e estrangeiros, para garantir a produção local de medicamentos, reduzindo a dependência externa.
A MIH Expo-24, segundo os promotores, “é uma plataforma abrangente para apresentar um esforço internacional unificado para fortalecer os sistemas de saúde contra os riscos relacionados com o clima, ao mesmo tempo que promove iniciativas que impulsionam o setor para um impacto ambiental líquido zero”.
O evento, que termina hoje, reúne em Maputo as principais partes interessadas internacionais do setor, decisores políticos, profissionais e inovadores com o objetivo de facilitar o intercâmbio de conhecimentos, partilhar melhores práticas e mostrar a inovação de ponta na região.