Os tratamentos para a hepatite C ultrapassaram os 36.300 com taxas de cura acima de 97%, revela o relatório do Programa Nacional para as Hepatites Virais (PNHV) 2025 hoje apresentado em Matosinhos, no distrito do Porto.
Na população reclusa, esta percentagem sobe para os 98%, lê-se nas conclusões do relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS), no qual também é destacado que, em 2024, registaram-se menos internamentos por hepatite C crónica e um aumento do número de transplantes hepáticos, com queda nos casos associados a hepatites B e C.
É ainda destacado que, nos últimos dois anos, se registou uma redução em 40% do número de dias entre a autorização do tratamento da hepatite C e o seu início.
“A taxa de cura é de quase 100%. Isto é único em medicina. Uma pessoa tem uma doença há 30 ou 40 anos, uma doença que a pode matar, que provoca cancro do fígado, e toma uns comprimidos que não têm efeitos secundários durante uns meses e fica quase 100% curada. Isto é único e um dado muito positivo de Portugal”, resumiu o diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais da DGS, Rui Tato Marinho.
Em declarações à agência Lusa, à margem da sessão de apresentação do relatório PNHV 2025 que decorre hoje no Estabelecimento Prisional do Porto (Custoias, concelho de Matosinhos), o diretor destacou a percentagem “brutal” de 97% de cura, mas também a eliminação “quase completa” no contexto da diálise e a também “brutal” redução do número de internamentos.
“Além disso a pessoa quando elimina o vírus, deixa de contagiar outras pessoas e a doença quase que para: se não tem cirrose, não vai ter, e se tem cirrose é reduzido o risco de ter cancro do fígado. Se for mulher, deixa de transmitir aos filhos. Deixa de existir o contágio sexual. E o vírus podia afetar também o funcionamento do cérebro e nesse aspeto também se registam melhorias”, referiu.
De acordo com o relatório, o número de tratamentos autorizados apresentou um aumento de 7% em relação ao ano anterior, com 2.216 novos tratamentos autorizados.
“Consideramos, no entanto, este tempo [de espera entre pedido e início de tratamento] ainda excessivo, e acima de tudo com marcadas assimetrias a nível nacional. Assim, mantém-se como objetivo do programa a promoção do acesso imediato ao tratamento da hepatite C no momento da prescrição médica, de forma a garantir a ligação dos doentes aos cuidados de saúde”, lê-se no relatório.
Recordando que, em 2015, Portugal adotou a estratégia de tratar, com antivirais de ação direta (AAD), todas as pessoas que vivem com hepatite C independentemente do estadio da doença, Rui Tato Marinho destacou que o tratamento “é dado a gente sem estigmatizar”.
“Esteja preso, seja pobre, seja rico, tenha 80 anos, não interessa. O que interessa é tratar as pessoas de uma forma gratuita. Há poucos países no mundo, mesmo na Europa, que deem a toda a gente, sem estigma – Portugal é muito bom nesse aspeto, não estigmatizar nem criminalizar quem tem uma vida diferente – o tratamento seja da hepatite B ou C”, acrescentou.
Já no relatório é destacado que Portugal foi um dos primeiros países, a nível europeu e mundial, a implementar esta estratégia de tratamento que visa a eliminação da hepatite C até 2030, “em absoluto alinhamento com as metas da Organização Mundial de Saúde (OMS)”.
“À data da elaboração deste relatório, os dados mais recentes da monitorização do tratamento da hepatite C, através do Portal da Hepatite C do Infarmed, informam que já foram autorizados 36.363 tratamentos, dos quais 33.735 já haviam sido iniciados”, é referido.
O relatório do PNHV destaca, também, as melhorias registadas na recolha e integração de dados sobre hepatites virais em Portugal, com aumento significativo nas notificações de hepatite A, B e C, refletindo melhor articulação entre notificações clínicas e laboratoriais.
No resumo do documento lê-se que se verificou um aumento na realização de testes de rastreio e na prescrição da ALT [Alanina Aminotransférase] nos cuidados de saúde primários, o que contribui para uma avaliação mais ampla da saúde hepática.
O número de prescrições subiu de 1,6 milhões em 2019 para 2,6 milhões em 2024.