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Deputado de Macau insta Governo a "encarar seriamente" saúde mental e suicídio

LUSA
19-05-2025 10:32h

Um deputado de Macau pediu hoje ao Governo da região para "encarar seriamente" questões ligadas à saúde mental e ao suicídio, sublinhando a "falta de transparência" na divulgação de informação pelas autoridades.

No que diz respeito ao suicídio, o "atual mecanismo de coordenação interserviços centra-se no tratamento posterior, faltando recursos para um acompanhamento precoce e proativo, e medidas e meios de intervenção para os interessados receberem, de forma contínua, apoio emocional e psiquiátrico", disse o deputado Ron Lam durante uma intervenção na Assembleia Legislativa.

Dados oficiais apontam para 91 suicídios em 2024, com uma taxa de "13,6 por cada 100 mil pessoas", lembrou Lam, constatando ser um "valor significativamente superior à média internacional de cerca de nove a 10 pessoas".

A taxa de suicídio na região chinesa, com cerca de 687 mil habitantes, aumentou 44% em dez anos, sendo que em 2015 foram registados 9,4 casos por 100 mil habitantes, indicou.

Notando que o suicídio entre a camada jovem merece atenção, o deputado, do grupo eleito por sufrágio direto, trouxe mais dados para o plenário: o registo, em 2024, de quatro casos na faixa etária dos 5 aos 14 anos - a primeira vez que se registou mais de um caso neste grupo, nos últimos dez anos - e nove casos entre os 15 e os 24 anos, "o maior número verificado nos últimos dez anos".

Os valores da tentativa de suicídio mantêm-se elevados, declarou ainda Lam, com 249 casos no ano transato, "um aumento de 1,5 vezes em comparação" com 2015. Também aqui, o deputado voltou aos mais jovens, com os últimos cinco anos a apresentarem um aumento, "em média, para 40%" entre os 5 e os 24 anos. Entre 2015 e 2019, a média era de 20%, sublinhou.

"É possível verificar que, quanto aos casos de suicídio e de tentativa de suicídio em Macau, as pessoas são cada vez mais jovens", frisou.

O parlamentar, da Associação da Sinergia de Macau, salientou que, para que a sociedade possa estudar e analisar causas e tendências do suicídio, é necessária maior transparência na informação divulgada pelas autoridades. Esta, segundo afirmou, é limitada.

O deputado disse compreender que possa haver um efeito de contágio, considerando, porém, que este é "um pretexto que os serviços competentes têm utilizado nos últimos anos para não encarar o problema".

"Professores, funcionários de escola, assistentes sociais, médicos e enfermeiros da linha da frente e trabalhadores das forças de segurança disseram-me que o número de suicídios com que lidaram nos últimos anos aumentou muito, e é cada vez mais comum haver jovens com problemas de saúde mental e stress", disse.

Neste sentido, Lam pediu ao Governo que "abandone a atual política de avestruz" e crie mecanismos "específicos e objetivos, para, atempada e racionalmente", divulgar informações sobre suicídios à comunicação social.

Apelou ainda para que sejam fornecidas "informações adequadas" sobre a prevenção do suicídio e definidos "objetivos claros" para reduzir o número de casos. E, "através da colaboração interdepartamental e do reforço do investimento, assegurar que as pessoas tenham acesso a apoio suficiente, por forma a travar, efetivamente, o agravamento" do cenário.

Apesar de um aumento em 2024, o Governo anunciou, na sexta-feira, um recuo dos números no primeiro trimestre deste ano, com 18 casos registados, menos quatro em termos anuais.

Um comunicado do Instituto de Ação Social aponta que os casos "deveram-se principalmente aos problemas relacionados com o jogo ou finanças, doenças mentais, doenças crónicas ou doenças fisiológicas".

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