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Vítimas de exploração sexual precisam de mais assistência especializada

LUSA
29-04-2024 18:56h

As vítimas de exploração sexual entrevistadas no âmbito de um estudo nacional sobre o fenómeno defenderam que precisam de assistência especializada, sobretudo ao nível da saúde mental, e programas para a escolaridade e inserção no mercado de trabalho.

As conclusões do projeto “Melhorar os sistemas e prevenção, assistência, proteção e (re)integração para vítimas de exploração sexual” foram conhecidas hoje e o projeto incluiu entrevistas a 90 pessoas vítimas deste tipo de crime.

Em declarações aos jornalistas, Marlene Matos, professora associada da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, e uma das responsáveis pela apresentação dos resultados, adiantou que as vítimas entrevistadas denunciaram a “necessidade de uma assistência especializada ao nível da saúde mental, apoio psicológico e psiquiátrico”.

“Falam também da necessidade de programas que as ajudem do ponto de vista da escolaridade, da profissão, a inserir-se mais facilmente no mercado de trabalho”, referiu a docente.

Defendeu igualmente que, nesse trabalho de assistências, as vítimas precisam saber reconhecer melhor quais são os seus direitos, “nomeadamente o direito à habitação ou o direito a algum apoio social temporário”.

As vítimas “falam também da necessidade de uma proteção mais eficiente, mais célere e menos burocrática”, referiu Marlene Matos.

Salientou que algumas das vítimas entrevistadas não falavam português e que, por isso, o acesso aos serviços revelava-se difícil, ao mesmo tempo que também criticavam a morosidade dos processos de reintegração.

A investigadora salientou que a exploração sexual é um fenómeno nacional e internacional “com uma expressão preocupante”, com “causas múltiplas”, para o qual são precisas “respostas que melhorem os sistemas de prevenção”.

“Isso faz-se através de uma maior capacidade da sociedade civil em reconhecer a exploração sexual, os indícios e os sinais e sinalizar as vítimas às entidades”, defendeu.

Marlene Matos salientou que as vítimas de exploração sexual “precisam de medidas de apoio continuado de longo prazo”.

“As dificuldades com que lidam, tendo em conta os eventos traumáticos de que foram vítimas, exigem que os serviços que estão ao seu dispor se prolonguem durante algum tempo para que todas as suas trajetórias de recuperação pós exploração sexual possam ser bem-sucedidas”, apontou, acrescentando que, no mínimo, esse prazo deveria ser de um ano e que deveria ter em conta as necessidades específicas de cada pessoa.

Na opinião da investigadora, esse apoio deveria ser ao nível da saúde física, mental, social, mas também apoio financeiro, jurídico, legal e de informação.

“Estas vítimas precisam sobretudo de informação sobre que tipo de serviços existem, que direitos elas têm a esses serviços e como é que eles podem ser acessíveis facilmente”, apontou.

Marlene Matos salientou que as 90 pessoas entrevistadas não refletem a realidade do fenómeno “porque ele é altamente subnotificado”, explicando que para chegarem à fala com aquelas pessoas tiveram a “colaboração preciosa de todos os parceiros que no terreno trabalham” com aquela população.

Durante a apresentação dos resultados, foi também salientado que a pandemia de covid-19 trouxe “desafios adicionais”, nomeadamente ao nível da deteção e sinalização deste tipo de crime, uma realidade que afetou mais as pessoas migrantes.

Os confinamentos obrigatórios durante esse período fizeram com que as vítimas ficassem mais vulneráveis e os criminosos arranjassem outras ferramentas para aliciar as suas vítimas, recorrendo, por exemplo, a métodos via redes sociais.

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