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Ativistas contra proibição do aborto no Arizona lutam por levar questão a votos

Lusa
17-04-2024 14:53h

Os ativistas contra a proibição do aborto no estado norte-americano do Arizona querem referendar a questão em novembro, aquando das eleições presidenciais, após o Supremo Tribunal estadual ter validado legislação de 1864 praticamente banindo a interrupção voluntária da gravidez.

A presidente da organização sem fins lucrativos Democracy Forward, Skye Perryman, disse à Lusa que a campanha por detrás do referendo é da responsabilidade da Arizona for Abortion Access, organização que recebeu um volume considerável de mensagens e voluntários na sequência da decisão legal do Supremo estadual. O sítio web da iniciativa chegou a estar em baixo devido à avalanche de acessos. 

“Centenas de milhares de habitantes do Arizona expressaram apoio a que os eleitores possam proteger o direito ao aborto nas urnas”, sublinhou Perryman. “É crítico que as pessoas tenham a oportunidade de votar para restaurar estes direitos”. 

A decisão no estado é “regressiva, prejudicial e legalmente absurda”, e "vai deixar as mulheres do Arizona sem cuidados de saúde e os médicos sob ameaça de perseguição criminal”, afirmou a responsável. 

A lei com 160 anos, que só permite aborto no caso de risco de vida da mãe, tinha sido bloqueada em 1973 quando o Supremo do país determinou o direito federal ao aborto na decisão  Roe v. Wade. Com a revogação deste direito, em 2022, o Tribunal estadual abriu caminho para que vigore a lei criada quando o Arizona ainda não era um estado. 

“Esta decisão destaca até que ponto os extremistas anti-aborto estão dispostos a ir para restringir os direitos reprodutivos”, considerou Skye Perryman. “Incluindo a invocação de uma lei de uma época anterior às mulheres poderem votar”. 

“Temos de avançar no nosso país, não regredir”, afirmou Perryman. 

Os legisladores democratas do Arizona, que estão em minoria, tentaram fazer aprovar uma medida que repelia a entrada em vigor da lei de 1864, mas a maioria republicana bloqueou esse esforço. 

Se nada mudar, a lei poderá avançar dentro de poucas semanas, transformando de forma profunda o cenário no Arizona, onde neste momento é possível fazer um aborto até às 15 semanas de gestação. 

A decisão do Supremo Tribunal provocou ondas de choque num estado que será crítico para a eleição do próximo presidente e do controlo do Senado. Os democratas passaram à ofensiva com várias conferências de imprensa onde denunciaram o extremismo dos opositores do direito ao aborto. 

Também o Presidente Joe Biden caracterizou a proibição como “cruel”, dizendo em comunicado que é resultado de uma agenda extremista de legisladores republicanos “que estão empenhados em destruir a liberdade das mulheres”. 

Em 2020, Joe Biden bateu Donald Trump no Arizona por menos de 11 mil votos num total de 3,3 milhões. A 05 de novembro, os eleitores vão escolher novamente entre os dois candidatos – os únicos com possibilidade de chegar à Casa Branca – e estrategas políticos de ambos os lados consideram que esta decisão pode ajudar o democrata, galvanizando o voto jovem, independente e moderado. 

Essa perspetiva ficou patente quando Trump, que tem colhido os louros da revogação do direito federal ao aborto, se distanciou da decisão do Supremo do Arizona, dizendo que este “foi longe demais”. 

Uma sondagem da Data for Progress também ilustrou a divisão entre o eleitorado republicano: 49% dos inquiridos disseram que desaprovavam da decisão do Tribunal e 46% disseram aprová-la. 

O Arizona tem 11 votos no colégio eleitoral e a corrida para o lugar de Kyrsten Sinema no Senado será uma das mais renhidas em novembro. 

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