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Mais de 150 investigadores unem-se para impulsionar a aplicação da técnica de Raman na Clínica

Diogo Mendes
17-10-2018 16:28h

Com o objetivo de introduzir a técnica de espectroscopia Raman na clínica, mais de 150 investigadores europeus formaram uma rede de colaboração, denominada Raman4Clinics, no âmbito das Ações COST - Cooperação Europeia em Ciência e Tecnologia.

Apesar de se apresentar muito vantajosa para o diagnóstico precoce de múltiplas patologias, incluindo o cancro, talvez por desconhecimento, a técnica de espectroscopia Raman ainda é muito pouco aplicada na clínica. Na Europa, apenas alguns hospitais da Holanda, Alemanha e Reino Unido a utilizam.

A espectroscopia de Raman, identificada com o nome do cientista que a descobriu, o indiano Chandrasekhara Venkata Raman, Prémio Nobel da Física em 1930, é uma técnica ótica de alta resolução que através da incidência de radiação (luz) sobre uma qualquer amostra consegue obter informação química em poucos segundos. Ou seja, fornece informação acerca dos compostos presentes na amostra analisada.

É uma técnica «não invasiva, muito útil e vantajosa para a clínica, especialmente para o diagnóstico precoce de múltiplas patologias, nomeadamente doenças infecciosas, vários tipos de cancro de baixo prognóstico e bactérias hospitalares resistentes a antibióticos. Trata-se de uma técnica muito rigorosa que fornece informação imediata. Os doentes não têm assim que aguardar dias ou semanas pelos resultados de biópsias», asseveram Luís Batista de Carvalho e Maria Paula Marques, coordenadores do projeto.

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Maria Paula Marques - Investigadora

É igualmente uma ferramenta «muito versátil e vantajosa do ponto de vista económico», reforçam estes especialistas em Raman da FCTUC. «Pode ser muito útil em cirurgias extremamente delicadas, como, por exemplo, uma cirurgia para remover um tumor no cérebro, em que é imprescindível ter informação em tempo real que guie o neurocirurgião, indicando-lhe exatamente o que é tecido doente e deve ser totalmente removido, e o que é tecido são e deve ser poupado», ilustram.

Questionados sobre as causas que travam a translação da técnica para a clínica, Luís Batista de Carvalho e Maria Paula Marques alegam «desconhecimento. É preciso quebrar barreiras e explicar aos clínicos que a espectroscopia de Raman evoluiu muito nos últimos anos. Por exemplo, existem atualmente aparelhos de Raman portáteis, muito versáteis para utilizar em ambiente hospitalar e no teatro operatório, e as imagens obtidas são de fácil interpretação.»

Nesse sentido, a equipa de Luís Batista de Carvalho e Maria Paula Marques tem já em curso um projeto de investigação pioneiro em Portugal, em parceria com o IPO de Coimbra. Intitulado Vibs on Cancer. O projeto, que é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e FEDER, visa a aplicação da espectroscopia de Raman em diagnóstico médico, especificamente na deteção precoce de tipos de cancro de baixo prognóstico.

 

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