SAÚDE QUE SE VÊ

“Em Lisboa e Vale do Tejo a situação é preocupante e pode alastrar ao resto do país”, afirma Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública  

CANAL S+ / VD
19-06-2020 23:45h

Em entrevista ao Canal S+, Ricardo Mexia explica que o país teve ótimos resultados com o confinamento da população como resposta inicial à pandemia, mas atualmente o regresso faseado ao trabalho “trouxe números mais preocupantes que requerem a devida atenção de todos”, afirma o especialista em saúde pública.

Para a próxima segunda-feira está já agendada uma reunião que juntará os cinco presidentes de câmara da Área Metropolitana de Lisboa com maior número de focos de infeção pela Covid-19 e o Primeiro-Ministro, anunciou hoje a ministra da Saúde, Marta Temido.

O médico especialista em saúde pública mostra-se ainda surpreendido com a verba alocada no Orçamento de Estado retificativo para a área, “sobretudo porque estamos com um contexto de pandemia”, destaca. Ricardo Mexia garante que 700 mil euros “é uma verba diminuta” para fazer face a tudo o que é preciso fazer no sentido de travar o avanço da pandemia no país. O problema maior, refere, “é também o cansaço das muitas equipas de saúde pública que continuam no terreno, já exaustos, e a quem continua a ser pedido um esforço adicional”, lembra.

Sobre o anúncio oficial de que Lisboa irá receber em meados de Agosto oito jogos da Final da UEFA, Ricardo Mexia confessa perceber a importância do evento para “animar a economia”, mas recorda ao mesmo tempo que a Organização Mundial de Saúde já reconheceu há muito tempo que eventos com uma concentração elevada de pessoas permitem a disseminação da COVID-19 de modo exponencial, por isso é preciso tomar todas as cautelas, recomenda o especialista.

À data de hoje, Portugal tem uma média de 44 infetados com COVID-19 para um universo de 100 mil habitantes. O resultado levou cinco países europeus a impedir a entrada de portugueses e outros a exigir a quarentena de 14 dias. O deputado do PSD, Ricardo Baptista Leite tem vindo também a criticar a chegada de aviões com estrangeiros, alguns deles infetados com a COVID-19, apontando fragilidades ao sistema de controle de entradas em Portugal. Para o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, os mecanismos de controle da sanidade internacional a bordo dos aviões são de facto “necessários e estão a funcionar”.

O que preocupa mais o especialista em Saúde Pública prende-se com as “festas ilegais” como a que se realizou a semana passada em Lagos, no Algarve. Ricardo Mexia recorda que os eventos de “super spreading” podem desencadear um fenómeno relâmpago e devem ser evitados a todo o custo. O médico lembra que “só todos juntos, conseguimos ultrapassar a pandemia mais depressa”, assegura.

A festa ilegal em Lagos resultou na infeção de 90 pessoas no concelho, anunciou hoje Ana Cristina Guerreiro, delegada regional de saúde do Algarve, em conferência de imprensa. 

O último boletim divulgado pela Direção-Geral da Saúde confirma a existência em Portugal de 422 doentes internados, 67 em Cuidados Intensivos. De um total de 38 mil 464 casos confirmados de COVID-19, 24 mil 477 já foram dados como recuperados e há a lamentar a morte de 1527 indivíduos.

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