A Iniciativa Liberal (IL) relativizou hoje as posições da Ordem contra a participação dos médicos no processo de legalização da morte medicamente assistida dado que não pode “obrigar ou proibir qualquer dos seus membros de realizar atos médicos legalmente previstos”.
Numa nota enviada à Lusa, a IL, que tem um projeto de lei para despenalizar a eutanásia, lamenta que a Ordem dos Médicos (OM) “se coloque à margem de um processo como o da morte medicamente assistida”, em debate no parlamento após a aprovação, na generalidade, de cinco diplomas em Fevereiro, e deixou várias advertências.
A OM “é uma entidade cujas posições devem ser consideradas na medida em que traduzam a opinião da classe que, corporativamente, representam”, lê-se na nota.
Estas posições, porém, “não representam a opinião de todos os médicos, nem podem obrigar ou proibir qualquer dos seus membros de realizar atos médicos legalmente previstos”, segundo a nota da IL, que elegeu um deputado, João Cotrim Figueiredo, nas legislativas de 2015.
A Ordem dos Médicos enviou, na quinta-feira, uma carta à Assembleia da República em que se manifesta contra qualquer forma de legalização da morte medicamente assistida e comunica que não integrará comissões e não indicará nenhum médico para participar em processos de fim de vida deste tipo, noticiou o jornal Público.
O Conselho Nacional da Ordem informa o parlamento que “se recusará a indicar ou nomear médico(s) para qualquer comissão que a legislação preveja e/ou a praticar qualquer tipo de ato do qual resulte uma colaboração e/ou participação, direta ou indireta, da Ordem dos Médicos em procedimentos preparatórios e/ou de execução de atos de “antecipação da morte a pedido” ou da “morte medicamente assistida”, na vertente da “eutanásia” e da “ajuda ao suicídio”.
A Iniciativa Liberal sublinhou igualmente que “existem plataformas alternativas representando profissionais de Saúde, que estão disponíveis para contribuir para o grupo de trabalho que, na Assembleia da República, tem a incumbência de elaborar a versão final da lei”.
Hoje, Bloco de Esquerda (BE) e CDS-PP comentaram, sem sentidos diferentes, a posição da Ordem dos Médicos.
Primeiro, o deputado do BE José Manuel Pureza manifestou "estranheza" com a recusa da OM em participar na regulamentação da eutanásia, esperando que reconsidere este "gesto precipitado" e "extremista" de impor aos médicos uma orientação quando há pluralidade de posições.
Horas depois, o líder parlamentar do CDS, Telmo Correia, criticou o Bloco por ter acusado a Ordem de "extremismo", dizendo que é “um sinal gravíssimo de despeito pela OM e pelos profissionais de saúde”.
A Assembleia da República aprovou em 20 de fevereiro, na generalidade, os cinco projetos da autoria do PS, BE, PEV, PAN e Iniciativa Liberal para despenalização da morte medicamente assistida.
Os diplomas preveem que só possam pedir a morte medicamente assistida, através de um médico, pessoas maiores de 18 anos, sem problemas ou doenças mentais, em situação de sofrimento e com doença incurável.
Propõem também a despenalização de quem pratica a morte assistida, nas condições definidas na lei, garantindo-se a objeção de consciência para os médicos e enfermeiros.
A deputada Isabel Moreira (PS) vai fazer um primeiro projeto de texto de substituição para uma lei da despenalização da morte medicamente assistida, a partir dos cinco diplomas aprovados no parlamento, uma decisão da primeira reunião do grupo de trabalho, presidido pela deputada do PSD Mónica Quintela, criado pela comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais.
A lei só será aprovada em definitivo após o debate na especialidade e a votação final global no parlamento, dependendo a sua entrada em vigor a promulgação pelo Presidente da República.
Pendente na Assembleia da República está, desde quinta-feira, uma iniciativa popular, com 95.287 assinaturas, para a realização de um referendo à despenalização da eutanásia.