SAÚDE QUE SE VÊ

Ordem dos Psicólogos: “15 a 25 por cento dos portugueses poderá ficar com marcas psicológicas”

Canal S+ / TB
17-04-2020 22:28h

A saúde física, o emprego das pessoas e a condição económica do país são os grandes focos de preocupação, numa altura de início de transição entre a fase de pandemia e a vida depois dela, afirma Francisco Miranda Rodrigues. O Bastonário da Ordem dos Psicólogos teme pela psique dos portugueses e alerta que há uma elevada probabilidade de sairmos da crise com muito mais perturbações. "Chegou a hora do país investir seriamente nos serviços de psicologia, até porque sem trabalhadores mentalmente sãos será muito mais difícil revigorar as empresas e a economia", conclui.

A PANDEMIA E O PONTO DE PARTIDA PORTUGUÊS
Esta é uma realidade nova, diferente de qualquer outra situação de catástrofe pela qual tenhamos passado. E se alguns dos impactos normalmente associados a estes eventos não serão sentidos de forma tão forte no atual contexto, também é verdade que este inédito isolamento social traz desafios adicionais.
De acordo com o Bastonário da Ordem dos Psicólogos, a maioria de nós consegue lidar de forma minimamente saudável com esta nova realidade, mas há também quem não o consiga, e existe um grupo de pessoas em particular, invisível, que precisa de séria atenção. Essa invisibilidade conduz, segundo o próprio, a uma falta de apoio que provavelmente está a reduzir o seu bem-estar e poderá prejudicar em definitivo as suas relações e o seu desempenho profissional.

Para Francisco Miranda Rodrigues, estamos perante uma elevadíssima probabilidade de um aumento das perturbações – ligeiras ou mais graves – e de um agravamento daquelas que já existem. As razões prendem-se não só pelo contexto que estamos a viver mas também por alguma falta de acompanhamento, ou não fossem as questões do foro mental tradicionalmente pouco assumidas por quem as tem, e por isso mais escondidas da sociedade.
De acordo com alguns estudos, revela ainda, uma em cada quatro pessoas poderá ficar afetada psicologicamente na sequência de uma situação de crise ou catástrofe. Tendo em conta a dimensão nacional da pandemia de COVID-19, os números poderão ser verdadeiramente dramáticos.

Para além de tudo isto, há ainda a acrescer o ponto de que Portugal partiu antes da pandemia, em matéria de saúde mental. Para o Bastonário da Ordem dos Psicológos, há dois fatores que contribuem para o aumento do risco de desenvolvimento de perturbações: a baixa literacia da população em saúde mental e a dificuldade no acesso aos serviços de psicologia. Ao mesmo tempo, o Serviço Nacional de Saúde tem, diz, recursos muito escassos ao nível dos cuidados de saúde primários, onde continua sem haver reforço do número de psicólogos. Concomitantemente, uma fatia muito grande dos portugueses não tem condições financeiras para procurar ajuda no setor privado.


OS APOIOS NA CRISE
Em plena pandemia, a intervenção em crise está preparada e a funcionar de forma adequada, de acordo com o responsável máximo pela classe dos psicólogos em Portugal, tendo em conta as limitações existentes e o desafio acrescido do isolamento social, com várias linhas de apoio psicológico e noções importantes de literacia em saúde para a população. Apesar disso, Francisco Miranda Rodrigues alerta que um acompanhamento à distância poderá levar ao agravamento da condição das pessoas.

O que podemos todos fazer para proteger a nossa saúde nestes tempos de privação que estamos a viver? De acordo com o Bastonário da Ordem dos Psicólogos, é preciso aceitar como normais os impactos que possamos estar a sentir, guiarmo-nos pelas recomendações das autoridades de saúde e, se isso não for suficiente, pedir ajuda.

A Ordem dos Psicólogos procura contribuir para que essa ajuda psicológica chegue aos portugueses através de uma linha de apoio entretanto criada em parceria com o Ministério da Saúde. Está integrada na Linha SNS24, sendo por isso necessário ligar para o 808 24 24 24, seguido da opção 4. Do outro lado estará, garante o seu Bastonário, um psicólogo especialista na área da saúde.


O FUTURO E A URGÊNCIA DA SAÚDE MENTAL
O Bastonário da Ordem dos Psicólogos considera que o período de duração da pandemia e o eventual regresso à normalidade, antecipando o mais que provável contexto de crise económica que nos espera, terão impactos diferentes na saúde mental das pessoas, expressando particular preocupação com o que virá depois da crise sanitária e reforçando que desta vez serão necessárias, mais que promessas, medidas efetivas para dotar o Serviço Nacional de Saúde de mais psicólogos. Segundo o próprio, e à luz da evidência científica disponível, já deixou de ser compreensível o negligenciar do impacto deste problema nas pessoas e consequentemente na própria economia, e perante um grupo de pessoas escondidas e sem voz ativa, cabe ao Governo tomar medidas para minimizar os impactos dos difíceis tempos que vivemos.

Em conclusão, Francisco Miranda Rodrigues não tem dúvidas: cuidar da dimensão mental das pessoas, com base na ciência psicológica, é fundamental não só para mitigar o seu sofrimento, mas também para que o país possa ter empresas fortes para uma recuperação da economia o mais rápida possível.

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