O Governo polaco está a ser criticado por ter promovido uma cerimónia pública que evocou um fatal acidente aéreo, enquanto dezenas de pessoas protestaram hoje na rua contra uma lei sobre o aborto, apesar da proibição de ajuntamentos públicos.
Mais de uma dezena de membros do Governo conservador, sem máscaras de proteção, juntaram-se na passada sexta-feira ao líder do partido no poder, Jaroslaw Kaczynski, numa cerimónia ao ar livre pelo 10.º aniversário do desastre aéreo que vitimou o irmão gémeo de Kaczynski, o então Presidente Lech Kaczynski, e outros 95 dirigentes e altos responsáveis polacos.
Um dirigente da oposição, Adam Szlapka, notificou os procuradores ao considerar que a cerimónia excedeu largamente o máximo permitido de cinco pessoas, uma das medidas impostas pelo Governo para conter o surto da pandemia da covid-19.
Diversos ‘media’ e setores da população também criticaram o evento, ao considerarem que o executivo demonstrou desdém pelas próprias restrições que impôs para combater o novo coronavírus.
Diversos ciclistas, transeuntes e pelo menos uma igreja foram multados no equivalente a cerca de 3.000 euros por infringirem as regras de distanciamento social.
Hoje, o porta-voz do Governo, Piotr Mueller, argumentou que as cerimónias se inseriram nos deveres dos membros do Governo e “não estavam proibidas” no âmbito dos regulamentos que permitem às pessoas exercerem o seu trabalho.
Piotr Mueler acrescentou ainda que os membros do gabinete do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki se encontram regularmente face a face.
No entanto, as reuniões do conselho de ministros e as conferências de imprensa decorrem através de videoconferência.
Kaczynski também foi muito criticado por ter sido conduzido na sexta-feira numa limusine ao cemitério Powazki em Varsóvia, encerrado ao público, onde visitou o túmulo de sua mãe.
A televisão pública TVP INFO disse que Kaczynski solicitou e obteve uma autorização especial para entrar no cemitério, e que pagou o aluguer do carro.
A estação televisiva disse que Kaczynski também se deslocou às campas de algumas das vítimas do desastre aéreo.
Por outro lado, hoje, na capital polaca, diversas dezenas de mulheres, e também de homens, de carro, de bicicleta ou a pé, desafiaram a proibição de reuniões públicas e bloquearam uma zona central de Varsóvia para protestar contra uma proposta de lei que limita o acesso ao aborto, já muito limitado na Polónia.
O texto “Stop o aborto”, preparado por um grupo radical de opositores à Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), deve ser examinado na quarta-feira pelo parlamento de Varsóvia, onde os nacionalistas conservadores do partido Lei e Justiça (PiS) garantem maioria absoluta.
A iniciativa visa proibir um dos casos de aborto ainda legalmente autorizados, relacionado com as malformações do feto.
Outra proposta de lei igualmente na agenda tem como objetivo limitar a educação sexual e propõe em certos casos até três anos de prisão para os infratores.
Segundo os promotores do texto, não se trata de proibir totalmente a educação sexual mas de impedir a “sexualização” das crianças.