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Covid-19: Petição que exige cancelamento do TV Fest surgiu como coro de vozes indignadas

LUSA
09-04-2020 16:21h

A petição 'online' que pede o cancelamento imediato do festival TV Fest, com mais de 18 mil assinaturas, foi iniciada por um grupo de amigos que quis juntar “num coro” as várias vozes contra aquela iniciativa do Governo.

Na terça-feira à noite, a ministra da Cultura Graça Fonseca anunciava na RTP o TV Fest, um festival de música em parceria com a estação pública, com concertos diários, que arranca hoje à noite e que conta com um orçamento de um milhão de euros, saídos dos cofres do Estado.

Ainda nessa noite, um grupo de amigos, composto maioritariamente por “pessoas ligadas ao setor Cultural, de vários pontos do país e sem ligações partidárias”, partilhava entre si a “perplexidade” perante a iniciativa, contou à Lusa um dos elementos desse grupo, o programador e produtor cultural Gui Garrido.

Depois do anúncio, nas redes sociais “várias pessoas [entre músicos, atores e outras figuras ligadas ao setor Cultural] mostraram a sua indignação”, e o grupo de amigos começou a tentar criar “um documento que servisse de porta-voz, para quem quisesse assinar”.

A petição pública “Pelo cancelamento imediato do festival TV Fest” foi colocada 'online' pelas 18:00 de quarta-feira e, menos de 24 horas depois, pelas 16:00 de hoje, já reunia mais de 18.600 mil assinaturas, tornando-se assim “num coro” a uma só voz.

Gui Garrido confessa que o grupo “não estava à espera” de um número tão grande de assinaturas “com a velocidade que foi”.

O festival, criado no quadro de apoio ao setor da música, no âmbito da crise da pandemia covid-19, prevê a realização de concertos disponibilizados, todas as noites, no canal 444 e na RTP Play, ao longo de um mês.

Em cada programa atuam quatro músicos. Os primeiros quatro, escolhidos pelo apresentador de televisão Júlio Isidro, são Marisa Liz, Fernando Tordo, Rita Guerra e Ricardo Ribeiro. Estes quatro músicos convidam outros quatro e daí em diante.

A petição pede o cancelamento do TV Fest, mas serve para todas as “atitudes e medidas não inclusivas”. “O caminho a seguir tem que ser o mais justo e abrangente possível, dentro de todo o país e dentro da visibilidade e invisibilidade dos profissionais”, referiu Gui Garrido, salientando também que “o setor das Artes e de Cultura é mais do que a Música”.

Embora a petição exija o cancelamento do festival, Gui Garrido salienta que a indignação “nunca foi contra os artistas” envolvidos, “nem contra quem gravita à volta deles”.

“Temos que ser solidários e este momento exige um esforço ainda maior para que haja igualdade num mundo tão profundo de desigualdades. Não foi tentada a melhor maneira com esta iniciativa”, afirmou.

Para os signatários da petição a realização do TV Fest, no presente estado de emergência, é "uma medida antidemocrática e não inclusiva".

De acordo com o texto que sustenta a petição, a iniciativa do Ministério da Cultura "constitui uma ameaça ao ecossistema cultural português que elimina curadores, diretores artísticos, músicos, técnicos e os demais, operando através de um jogo em corrente, exclusivo, e de círculo fechado, aos seus participantes artísticos, que desclassifica a participação, representatividade e diversidade de um setor".

A crise provocada pelo novo coronavírus levou a um cancelamento de todas as atividades artísticas, e ao encerramento das instituições públicas e privadas de cultura, deixando sem trabalho milhares de artistas das várias áreas.

"O Ministério da Cultura não pode, em qualquer instância, criar um festival de música portuguesa, para apoiar músicos e técnicos. Não cabe ao estado criar eventos de cultura. Para isso, contamos com os agentes culturais, promotores, curadores e diretores artísticos ativos em todo o país, que atualmente viram toda a sua atividade cancelada, muitos dos quais não encontram qualquer cabimento em nenhuma linha de apoio a artistas, trabalhadores independentes e entidades", sustentam ainda os signatários.

No entender dos peticionários, o que esperam da tutela é que "crie condições estratégicas e financeiras para que os projetos aconteçam e sejam promovidos e apoiados, em diálogo concertado com os mais variados agentes culturais, e tendo em conta as suas especificidades artísticas e técnicas, bem como pela sua geografia de ação no país".

Apelam ainda "à proteção das comunidades artísticas e culturais, à especificidade intrínseca do seu labor, à incapacidade de tal medida responder no presente a uma multiplicidade geral de casos".

Na petição, os signatários dirigem-se ao Presidente da Assembleia da República. Mas, para que a petição pudesse chegar ao Parlamento seria necessário que as assinaturas estivessem acompanhadas do número do cartão do cidadão ou bilhete de identidade dos signatários, algo de que Guio Garrido e os amigos só tomaram conhecimento já depois de terem colocado o texto online.

“O anúncio foi feito na terça-feira à noite e o programa começa hoje. Para a petição surtir efeito tinha que ser imediata”, explicou Gui Garrido, referindo que a mesma acabou por tornar-se num “ato simbólico de criação de um coro” de indignação.

 

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