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Mais de 200 milhões de crianças necessitarão de ajuda humanitária em 2026 – UNICEF

Lusa
10-12-2025 13:50h

A UNICEF alertou hoje que mais de 200 milhões de crianças precisarão de ajuda humanitária em 2026 em 133 países e territórios, e solicitou 6.580 milhões de euros para prestar apoio urgente a 73 milhões de menores.

No relatório Ação Humanitária para a Infância, apresentado em Madrid, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) sublinhou que o aumento dos conflitos, o agravamento da fome, os cortes no financiamento a nível mundial e o colapso dos serviços básicos estão a levar as necessidades humanitárias da infância a níveis extremos em todo o mundo.

Entre os 73 milhões de crianças a que se pretende dar apoio no próximo ano, contam-se 37 milhões de raparigas e 9,1 milhões de menores com deficiência.

O pedido para 2026 representa um corte de cerca de 22% face ao de 2025, que ascendia a cerca de 8.500 milhões de euros.

Numa conferência de imprensa, o diretor-executivo da UNICEF Espanha, José María Vera, salientou que “é indispensável” que o setor privado e as administrações públicas mantenham o compromisso, uma vez que o sistema humanitário está sob forte “pressão”, devido ao aumento das necessidades e à diminuição dos recursos.

O alerta surge numa altura em que os cortes de financiamento anunciados e previstos por parte de governos doadores já estão a limitar a capacidade de resposta do organismo multilateral.

Só nos programas de nutrição da UNICEF, o défice de financiamento de 72% em 2025 obrigou a reduzir intervenções em 20 países prioritários, e, na educação, o défice de 640 milhões de euros deixou milhões de crianças em risco de perder o acesso ao ensino.

Dos 6.580 milhões de euros solicitados para 2026, 40% destinam-se a água, saneamento, higiene e nutrição, 16% à educação, 14% à saúde e 12% à proteção da infância, entre outras áreas.

As maiores necessidades de financiamento para 2026 concentram-se no Sudão (830 milhões de euros), no Afeganistão (815 milhões) e na Palestina (580 milhões), onde crianças enfrentam crises de extrema gravidade, com risco de fome em Gaza e em partes de Darfur e Cordofão (Sudão).

A região que requer mais fundos é o Médio Oriente e Norte de África, com um total de 2.580 milhões de euros solicitados. O Líbano, a Palestina e o Sudão integram esta zona.

A África Central e Oriental, com 1.070 milhões de euros pedidos, e o Sudeste Asiático (970 milhões), com o Afeganistão e o Bangladesh como áreas prioritárias, são as outras duas regiões que concentram a maior parte da ajuda solicitada.

“As necessidades aumentaram, mas não apenas em número de milhões de crianças: aumentaram também em gravidade. Enfrentamos crises sobrepostas, uma após outra, que fazem com que a vulnerabilidade das crianças e o risco sejam ainda maiores”, acrescentou na conferência de imprensa a coordenadora global de emergências da UNICEF, Inés Lezama.

Face à restrição do acesso humanitário e à queda das contribuições, a organização sublinha que está a adaptar a sua atuação para continuar a trabalhar de forma eficaz. 

Entre as mudanças estão a necessidade de priorizar intervenções que salvam vidas e têm maior impacto, reforçar alianças com governos e atores locais e investir na preparação e na ação antecipatória.

“Há menos fundos e, por isso, temos de tomar decisões muito difíceis no dia a dia: que atividades podemos realizar, com que frequência, que crianças temos de priorizar. [...] Não basta salvar vidas, temos também de nos preocupar com as formas graves de violência contra a infância”, resumiu Lezama.

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