Os médicos de Saúde Pública afirmaram hoje que o risco de transmissão da gripe das aves a humanos é baixo em Portugal, mas alertaram que a intensidade e frequência dos surtos exigem medidas e vigilância ativa para detetar rapidamente eventuais casos.
“Não há, neste momento, conhecimento de nenhum caso em humanos, fruto de uma transmissão direta através dos animais” e o risco de transmissão “ainda é baixo”, disse o vice-presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública, que falava à Lusa a propósito do alerta do Centro Europeu de Controlo de Doenças para os países intensificarem os esforços para combater as ameaças de gripe das aves, numa altura em que subiram os surtos na Europa.
João Paulo Magalhães afirmou que, apesar de o risco de transmissão a humanos ser baixo, são necessárias medidas “devido à intensidade e à frequência com que estão a ocorrer estes surtos”.
“Não deixa de causar alguma preocupação que nos faz ter de ter um conjunto de medidas ativas e alertas para que possamos rapidamente detetar quaisquer situações, nomeadamente em humanos”, defendeu.
Segundo a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, Portugal registou 44 focos confirmados de gripe das aves só este ano.
Para responder a eventuais casos de transmissão a humanos, Portugal tem “três pilares essenciais” que estão ativos, sendo um deles o sistema de vigilância epidemiológica que está sempre ativo e monitoriza casos suspeitos, sobretudo entre profissionais em contacto direto com aves, salientou.
“Esse é o primeiro pilar e é aquele em que, neste momento, temos uma robustez grande em Portugal. Estamos confiantes de que esse sistema está a funcionar, e bem, e permite detetar rapidamente algum caso ou se houver alguma suspeita”, sublinhou.
Uma “rede laboratorial forte” que permite confirmar ou excluir casos suspeitos com rapidez e fiabilidade, assegurando uma resposta científica precisa, é o segundo pilar e que, afirmou, “dá segurança neste momento”.
Por último, apontou medidas de prevenção e tratamento caso se confirme um caso, nomeadamente antivirais que “podem ser rapidamente alocados” para tratamento e pessoas que possam ter sido expostas.
No seu entender, este é um ponto importante, mas depende da forma como o sistema está montado para dar essa resposta.
“Aquilo que defendemos é que esta resposta precisa, não só de ser de nível nacional, mas que os serviços de saúde pública que existem em cada unidade local de saúde tenham o reforço necessário para que consigam dar resposta a estas situações”, realçou.
Esta preparação enquadra-se no planeamento de contingência utilizado na gripe sazonal, cujos planos devem prever situações de surto.
“Se houver transmissão para humanos, temos capacidade de identificar essas pessoas, de as tratar e prevenir casos futuros”, disse, sublinhando que é neste ponto que “pode haver alguma heterogeneidade ao nível do território”.
Reiterando que o risco de transmissão para humanos é baixo, João Magalhães destacou a importância de manter a atenção, sobretudo entre os profissionais que trabalham em contacto direto com aves afetadas.
Deixou recomendações como estar atento a sintomas que se assemelham a uma gripe ou infeção respiratória, com febre, tosse, corrimento nasal, e ligar para a Linha SNS 24, informando a situação profissional e qualquer contacto com aves, o que permite ativar rapidamente os mecanismos de vigilância e resposta laboratorial.
Segundo o especialista, muitos destes profissionais conhecem bem o comportamento dos animais e conseguem detetar alterações que possam indicar doença.
Neste caso, devem seguir os protocolos estabelecidos, identificando sintomas nos animais e aplicando os mecanismos de prevenção e resposta adequados.
Defendeu ainda que a vigilância constante, o reforço das equipas e a integração entre saúde humana, animal e ambiental são essenciais, alertando que agir isoladamente compromete a eficácia da resposta.