O primeiro banco de cultura de córneas, instalado no hospital de Santo António, no Porto, permitiu em dois anos duplicar a média de transplantes de anos anteriores, revelou hoje o diretor do serviço de Oftalmologia.
“A média de transplantes da última década era de 141 por ano. Este ano, a meio de novembro já dobramos o número, com 283 transplantes”, explicou à Lusa Pedro Meneres, diretor do serviço de Oftalmologia do Hospital de Santo António, que integra da Unidade Local de Saúde de Santo António (ULSSA) e que acolheu o primeiro banco de cultura de córneas em Portugal.
O clínico destacou que o banco de cultura atingiu em 2025 uma “velocidade de cruzeiro” e o tempo de espera para o transplante, que era de dois anos, passou a ser de seis meses.
“É um avanço muito bom em termos de resposta para os nossos doentes”, destacou, esclarecendo que também as córneas “têm mais qualidade” com a tecnologia de cultura.
Numa informação escrita divulgada à Lusa, a ULSSA diz estar em causa “uma nova era na transplantação oftalmológica em Portugal”, assinalando que em 2022 existiam cerca de 300 doentes em lista de espera para transplante de córnea e que o número “baixou para 158 pacientes, uma redução de quase 50%”.
“A possibilidade de termos um banco de cultura potenciou também mais colheitas conservadas a frio”, observou.
O banco de córneas de cultura nacional “possibilita o processamento laboratorial em meio de cultura, substituindo a tradicional conservação a frio, alarga os critérios de colheita, prolonga o prazo de validade e melhora a qualidade dos tecidos”, descreve a ULSSA.
A córnea é, no olho, a estrutura transparente que está à frente da íris.
O Hospital de Santo António fez o primeiro transplante de córnea em 1958 e, até 1980, foram efetuados 198, o que representava uma média de nove por ano.
Em 1980, o hospital criou o Banco de Olhos para córneas refrigeradas, o que permitiu a conservação das córneas por alguns dias, possibilitando uma atividade mais regular.
A colheita de córneas para transplante é feita a dadores cadáveres através de duas formas: conservação a frio (córneas refrigeradas) e conservação em meio de cultura (córneas de cultura).
A preservação efetuada em meio de cultura permite o uso até 34 dias.
A idade e a septicemia não são critérios de exclusão.