O presidente do Fórum EuroAmericas, José Manuel Durão Barroso, defendeu hoje que o aumento da longevidade das pessoas é uma grande oportunidade em termos económicos e criticou aqueles que querem um “decrescimento” para reduzir o impacto ambiental.
“Na Europa, há quem pense que não precisa de crescimento, há até a demagogia do ‘decrescimento’”, mas isso “é um erro”, afirmou o ex-primeiro-ministro português e antigo líder da Comissão Europeia, durante a sua intervenção na edição deste ano do Fórum EuroAméricas, a decorrer em Carcavelos (Cascais), sob o tema “Longevidade: Motor de Oportunidades Globais”.
O “decrescimento”, um termo popularizado pelo filósofo francês André Gorz em 1972, tornou-se, nos últimos anos, um movimento adotado por diversos autores e analistas, em resposta à crise climática e à pandemia de covid-19, que considera que deve haver uma redução voluntária da produção e do consumo, com o objetivo de melhorar as condições ecológicas e sociais.
“Se formos capazes de ligar as gerações, podemos, no contexto do nosso modelo social, crescer em termos económicos mas também em termos humanos. É nessa aposta que devemos estar. Ver a longevidade como uma grande oportunidade”, disse Durão Barroso.
“Temos de nos deixar de ideias de decrescimento, temos de ter ambição” e “nunca perder o entusiasmo”, reforçou.
Para o presidente do fórum, a importância do Atlântico no crescimento dos países “é óbvia”.
E apesar de a nova administração dos Estados Unidos (EUA), liderada pelo republicano Donald Trump desde janeiro passado, “ter feito surgir dúvidas sobre o compromisso euro-atlântico”, Durão Barroso afirmou acreditar na resiliência dessa ligação.
“A geografia tem mais força do que a história”, considerou, referindo que “os EUA continuam a ser a maior potência do mundo e continua a ser do nosso interesse mantermos uma relação próxima”.
Por outro lado, a Europa criou uma nova relação com o Canadá e está a tentar reforçar a cooperação com a América do Sul e central.
“Há hoje uma cumplicidade entre Canadá e União Europeia (UE), em parte pelo sucesso do Acordo [Económico e Comercial Global (CETA)]” de 2017, que elimina a maioria das taxas aduaneiras entre os países, lembrou Durão Barroso, adiantando que espera que o mesmo venha a acontecer com o bloco económico Mercosul.
“Espero e desejo que as objeções que ainda permanecem desapareçam rapidamente e que finalmente seja aprovado”, referiu, sublinhando que isso constituirá “uma expressão concreta de que não estamos [Europa] a favor do protecionismo”.
O acordo UE-Mercosul deverá ser ratificado a 20 de dezembro no Brasil, mas vários países da Europa, nomeadamente a França, têm-se oposto por medo das consequências no setor agrícola.
“O comércio é fundamental” para aproximar Europa e Américas, reforçou Durão Barroso em declarações à Lusa, adiantando que o acordo com o Mercosul será “um magnífico estímulo para a economia europeia e latino-americana”.
Desvalorizando as objeções relativas à agricultura, o líder do Fórum EuroAméricas garantiu que o tratado trará vantagens.
“É preciso ler os acordos. Conheço o projeto de acordo e consultei os melhores especialistas que há sobre agricultura europeia, incluindo sobre a agricultura francesa, e todos me dizem que vamos ser beneficiários líquidos, como aliás aconteceu em relação ao Canadá”, afirmou.
Quando se estava a elaborar o CETA, também “houve uma grande oposição de muitos setores, dizendo que era muito mau para a Europa, mas a verdade é que, hoje em dia, é praticamente unânime que foi muito bom para a Europa”, lembrou.
O aumento do protecionismo, especialmente com a imposição de novas taxas aduaneiras pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, tem de ser combatido, considerou ainda Durão Barroso, adiantando que, para isso, tem de se abrir os mercados.
Mas a aproximação dos dois continentes não passa só pela economia, assegurou Durão Barroso.
“Fico muito triste quando vejo o quão pouco se fala do Brasil em Portugal e de Portugal no Brasil”, admitiu, defendendo que “há uma dimensão humana que pode e deve ser potenciada”.