Há dois anos, após realizar a segunda cirurgia cardiovascular, Eva Domingos diz que renasceu e, com “coração novo”, enalteceu hoje o trabalho do único centro de cirurgia cardiovascular de Angola, que totalizou 1.000 cirurgias em três anos.
Com 43 anos, Eva Domingos foi submetida a duas intervenções cirúrgicas ao coração, a primeira em 2009 no Hospital Josina Machel, em Luanda, e, com o encerramento daquela unidade, teve de esperar 14 anos para ver removida a sua prótese biológica no coração.
A segunda cirurgia de Eva decorreu, com sucesso, em 2023, no único centro de cirurgia cardiovascular de Angola instalado no Complexo Hospitalar de Doenças Cardiopulmonares (CHDCP) Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, em Luanda, contou hoje à Lusa.
Ser submetida a duas cirurgias cardiovasculares foi para Eva um exercício de aceitação para a cura da sua cardiopatia: “Se não te aceitas fica muito difícil (...). Graças a Deus nas duas cirurgias foi tudo tranquilo e hoje faço os meus trabalhos domésticos e profissional normalmente”, frisou.
Hoje, dois anos após a última cirurgia, garantiu estar renovada: “Antes me sentia muito cansada, tinha os pés inflamados, mas hoje tenho nova disposição e um coração novo”, disse com um sorriso nos lábios.
Eva Domingos consta entre os 1.000 pacientes que, nos últimos três anos, foram submetidos a cirurgias cardiovasculares naquela unidade hospitalar, sendo que a paciente 1.000 – Angélica Chilombo, 60 anos – ainda está em recuperação após cirurgia às válvulas realizada nesta segunda-feira, Dia Mundial do Coração.
Ainda entubada, já fora da unidade dos cuidados intensivos, a paciente, acamada e desperta, acenou à equipa de jornalistas que visitou hoje o centro hospitalar e, do seu punho, corrigiu a equipa médica, escrevendo, em papel, que se chama Angélica e não Angelina.
Márcia Pascoal, 32 anos, operada em 03 de setembro último, no CHDCP, a paciente 999 daquela unidade, já em casa mas com consultas ambulatórias, “recupera satisfatoriamente”, disseram os médicos da secção.
“Graças a Deus estou bem depois da cirurgia e com o acompanhamento médico tenho feito a medicação e a fisioterapia, tenho um dia a dia normal, sem exceder o esforço e isso tem ajudado a minha recuperação, já tomo banho sozinha e está tudo tranquilo”, disse.
Mesmo ainda com uma prótese biológica, para um período de três meses, Márcia disse ter uma dieta regrada, garantindo que, após a cirurgia, renasceu e tem agora uma rotina longe das anteriores palpitações e desconfortos.
“Hoje renasci, antes da cirurgia eu passava mal, tinha dispneia, não conseguia caminhar longa distância e também tinha intensas palpitações que eram enormes desconfortos que sendo dona de casa me sentia mal”, declarou.
Eva e Márcia são atualmente membros da Associação Coração de um Amigo, composto por antigos pacientes do CHDCP, que visitaram hoje o hospital com alguma merenda e palavras de conforto aos pacientes internados no bloco cardíaco.
Mil cirurgias cardiovasculares foram realizadas nos últimos três anos em adultos naquele hospital, desde a sua inauguração em 30 de novembro de 2021, salientou o cirurgião cardiovascular Iuri Betuel.
“E isto culmina com uma efeméride assinalada na segunda-feira, Dia Mundial do Coração, e olhando para a nossa estatística completamos 1.000 cirurgias cardíacas já realizadas. A cirurgia 1.000 foi realizada ontem [segunda-feira] com sucesso, com esta paciente de 60 anos, que fez uma cirurgia de troca de válvula”, assinalou.
O médico e chefe da secção de cirurgia cardíaca do CHDCP contou que a unidade realiza, em média, quatro cirurgias cardiovasculares por semana, número que pode duplicar em função das urgências ou emergências, e destacou as valências daquela secção.
A única unidade especializada de Angola realiza atualmente todos os procedimentos cardiovasculares, com exceção do transplante cardíaco, salientou, referindo que o Ministério da Saúde ambiciona implementar o serviço do transplante no país.
Segundo Iuri Betuel, as cirurgias cardiovasculares realizadas nos últimos três anos concorreram significativamente para a redução, neste período, de envio de pacientes com cardiopatia ao exterior do país.