Especialistas nomeados pelo secretário para a Saúde dos Estados Unidos, Robert Kennedy Jr., deixaram de recomendar a vacina combinada contra sarampo, papeira, rubéola e varicela para crianças com menos de quatro anos, optando por duas vacinas.
O novo Comité Consultivo sobre Práticas de Imunização (ACIP, na sigla em inglês) justifica a decisão com o risco de efeitos secundários mínimos e inofensivos associados à vacina tetravalente contra estas quatro doenças, nomeadamente a ocorrência de convulsões febris.
De acordo com a nova recomendação, divulgada na quinta-feira, a vacinação desta faixa etária será agora feita através de duas vacinas distintas que já eram recomendadas como alternativa: uma injeção contra as três primeiras doenças (VASPR) e outra apenas contra a varicela.
No entanto, o ACIP manteve inalterada a recomendação para a faixa etária seguinte, dos quatro aos 12 anos, para a qual continua a preferir a administração da vacina tetravalente contra o sarampo, a papeira, a rubéola e a varicela, dado que os riscos são mais reduzidos nestas idades.
Especialistas alertaram contra tal medida, que, segundo eles, semearia dúvidas de forma desnecessária e complicaria o acesso a estas vacinas.
"Qualquer mudança deve fortalecer, e não enfraquecer, o sistema que garante a saúde das nossas crianças", disse a epidemiologista Syra Madad à agência de notícias France-Presse.
"Esta é mais uma estratégia para assustar os pais", disse aos jornalistas Sean O'Leary, especialista em doenças infecciosas pediátricas.
A vacinação recomendada para crianças nos Estados Unidos é evitada ou adiada por um em cada seis pais, que indicam falta de confiança nas vacinas e nas autoridades de saúde, segundo uma sondagem divulgada na terça-feira.
Conduzida pelo The Washington Post e pela organização sem fins lucrativos KFF, a sondagem a mais de 2.500 pais mostra que a grande maioria destes continua a apoiar as atuais exigências de vacinação.
Mas as taxas de vacinação têm vindo a recuar no país desde a pandemia de covid-19.
A proporção de crianças em idade pré-escolar vacinadas contra o sarampo desceu a nível nacional de 95% em 2019 para 92,5% em 2024, com variações regionais significativas.
No Idaho (noroeste), está agora abaixo dos 80%, longe dos 95% recomendados para garantir a imunidade de grupo.
Como resultado deste declínio nas taxas de vacinação, os Estados Unidos vivem em 2025 a sua pior epidemia de sarampo em mais de 30 anos, com três mortes, incluindo duas crianças.
Esta mudança de recomendação quanto à vacina combinada contra o sarampo, papeira, rubéola e varicela pode ser seguida por outras.
O comité nomeado por Robert Kennedy Jr., figura de destaque do movimento antivacinas, também examinou a vacinação de recém-nascidos contra a hepatite B e planeia avaliar hoje as vacinas contra a covid-19.
Outras vacinações, sobretudo para as grávidas, serão reexaminadas mais tarde, anunciou Martin Kulldorff. O bioestatístico que lidera o comité garantiu que o grupo era "pró-vacina", em contraste com as "falsas alegações".
"Quando há opiniões científicas divergentes, confie apenas em cientistas dispostos a dialogar e a debater publicamente", disse.
Wilbur Chen, especialista em doenças infecciosas, discorda. "Não têm qualquer intenção de debater com base em ciência sólida", atirou à AFP. "Apenas repetem informações falsas e falsificadas", lamentou.