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Cientistas descobrem novas formas de reprogramar células para combater o cancro

Lusa
02-09-2025 11:28h

Uma investigação internacional, liderada pelas universidades de Coimbra (UC) e de Lund (Suécia), desvendou "receitas" para reprogramar células que podem ajudar a combater o cancro, através de tratamentos de imunoterapia mais eficazes.

A equipa de investigadores identificou novas formas para "reprogramar modelos celulares e convertê-los em diferentes subtipos de células dendríticas – células do sistema imunitário que, por identificarem e capturarem ameaças, têm um papel determinante na resposta a doenças", revelou hoje a UC, em comunicado enviado à agência Lusa.

"Os cientistas acreditam que esta descoberta pode abrir caminho a tratamentos de imunoterapia mais eficazes, adaptados a cada doente e tipo de cancro, e até criar estratégias de combate a outras doenças, como a diabetes e a artrite reumatoide".

Durante a investigação, a equipa de cientistas conseguiu identificar duas novas combinações de três fatores, as quais permitem regular a identidade das células para reprogramar células da pele e células cancerígenas em subtipos de células dendríticas.

“Estas combinações funcionam como ‘receitas’ para converter uma célula noutro tipo celular, e, em concreto, a partir dos novos dados para reprogramação celular que revelamos neste estudo, é possível gerar de forma mais eficaz dois subtipos de células dendríticas ainda pouco explorados em imunoterapia: tipo 2 e plasmocitóides”, revelou o coordenador Carlos Filipe Pereira.

O investigador do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia explicou que, “como diferentes tumores respondem de forma distinta a tratamentos, identificar as ‘receitas’ que originam cada subtipo de células dendríticas abre caminho a tratamentos personalizados de imunoterapia, adaptados a cada paciente e ao tipo de cancro que enfrenta”.

“Este conhecimento pode aproximar-nos de imunoterapias mais eficazes, contribuindo para reduzir a probabilidade de falha terapêutica e acelerar o desenvolvimento de novas estratégias contra o cancro”, salientou.

Na imunoterapia, o sistema imunitário da pessoa que está doente é ensinado a reconhecer e a atacar as células cancerígenas para combater o próprio cancro, num processo em que as células dendríticas “são as ‘professoras’, sendo essenciais para orientar e desencadear respostas eficazes, embora a utilização dos seus diferentes subtipos em imunoterapia seja ainda reduzida”.

Segundo Carlos Filipe Pereira, na área da oncologia “uma parte significativa dos tipos de cancro e dos doentes não responde" ao tratamento de imunoterapia, apesar de este tratamento ser visto como uma das áreas mais importantes da medicina.

Além da descoberta destas novas informações, os investigadores conseguiram ainda demonstrar que “diferentes subtipos de células dendríticas exercem efeitos benéficos distintos em modelos animais de melanoma e cancro da mama”, avançou Carlos Filipe Pereira.

“Este estudo não fornece uma solução única, mas abre a possibilidade de adaptar a estratégia terapêutica ao subtipo tumoral, aproximando-nos de imunoterapias mais personalizadas e eficazes”, acrescentou.

Participaram também no estudo investigadores da Universidade de Calgary (Canadá), da Universidade Técnica da Dinamarca, da Asgard Therapeutics (Suécia) e do Memorial Sloan Kettering Cancer Center (Estados Unidos da América).

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